MALANJE
Depois de quase um ano, regressámos a Angola; como é costume dizer-se: voltámos a Casa. Desta vez, a bagagem tinha que ser menos pesada por fora e mais por dentro. Um pouco de roupa, alguns remédios e as muletas; meus companheiros nos últimos tempos. Com minha bengala e acompanhado pelo Padre Fernando e pelo Adão, fomos para o aeroporto. Depois de uma hora e meia de espera, eles decidiram pedir ajuda. Cinco minutos depois, apareceu um homem com uma cadeira de rodas que me levou até à porta do avião.
Ao chegar ao aeroporto de Luanda, levaram-nos à área militar, onde nos esperava o pessoal de saúde, polícia de imigração e o autocarro para nos transportar. Depois de entregarmos os passaportes, fizeram-nos descer a todos para passarmos a quarentena em diferentes hotéis, preparados pelo governo. O motivo da retenção do passaporte, que seria devolvido após a conclusão do confinamento.
Por sorte, eles me deixaram no grupo de doentes ou deficientes e ordenaram que realizássemos a quarentena em casa. No meu caso, fui à casa das missionárias Irmãs Mercedárias do Benfica, onde fui recebido no ano passado, quando sofri o acidente. Depois deram-nos um documento como se tivéssemos passado a quarentena, para podermos chegar a Malanje.
Consciente das minhas limitações, sinto-me chamado do mais profundo para continuar servindo o Senhor em nossa Casa de Malanje. Pois para mim não é um lugar, são pessoas específicas a quem dissemos há muito tempo que somos uma família e que em mim eles têm um pai. Não podemos mentir-lhes e não devemos mentir-nos. Na maioria das vezes, as pessoas vêem a África de fora e vêem-na distante. Quando começamos a colocar-lhe rostos, vidas, lágrimas, alegrias, começamos a vê-la por dentro e a reconhecemo-la como nossa Mãe.
Padre Rafael