MALANJE
Neste número, 1983, celebramos o aniversário do Jornal O Gaiato, e me pareceu conveniente trazer à memória dois dos artigos das Normas de Vida dos «Padres da Rua», o primeiro é o número 72: «Pela força e crédito dos seus escritos, defendam os direitos e levem os homens a reconhecer e a respeitar o Pobre». Com estes três verbos: Defender, Reconhecer e Respeitar nos lembra três tendências da sociedade no que respeita ao Pobre e à Pobreza em que vive. Defender ante o perigo de culpabilizar o Pobre pela sua situação. Reconhecer ante o perigo de generalizar e não dar rosto a cada Pobre. Respeitar ante o perigo de considerar o Pobre uma pessoa com menos direitos.
O jornal alcança esse objectivo quando escolhemos transmitir aos leitores que a Obra da Rua pertence aos Pobres e no Jornal eles têm a oportunidade de expressar seus pensamentos, a realidade que vivem, sua maneira de ver a vida... ou simplesmente se expressar com toda a liberdade e sem condições ou condicionamentos. E um aspecto muito importante é que eu, como padre, não assuma o papel paternalista mas, pelo contrário, seja o primeiro a acreditar no Pobre como pessoa e a aceitar que a pobreza deixa suas cicatrizes em cada ser humano. Por isso, muito aprecio quando vejo textos escritos pelos próprios gaiatos ou por aqueles que se viram beneficiados por esta família.
Outro artigo que queria trazer à memória, também das Normas de Vida, é o número 73: «Aquele a quem Nosso Senhor deu o talento de escrever, escreva como quem reza. Prepare-se como quem vai falar de Deus. Só desta forma corresponde e faz valer o dom». Não há dúvida que há pessoas que têm esse talento, são menos as que se preparam, ainda menos as que o façam como quem reza e muito menos as que ao fazê-lo estejam a dirigir-se a Deus. Por este motivo não quero deixar passar este dia sem agradecer a todas as pessoas que até hoje tornaram possível o Jornal com seus escritos e sua edição. Finalmente tenho que reconhecer que Deus me deu talentos e entre eles não estava este de escrever, pois reconheço que muitas vezes o faço à última hora, por obrigação e porque da redacção mo recordam. Por isso, mil perdões a todos os Leitores e peçamos a Pai Américo que renove em nós este compromisso quinzenal com O Gaiato.
Padre Rafael