MALANJE

O Calvário, em Beire, passou a ser o meu lugar; e o Padre Fernando, com essa disponibilidade e generosidade difícil de encontrar neste tempo presente, partiu para a Casa do Gaiato de Malanje. Para trás fica esse ir e vir no meio de uma realidade que muda a cada dia... e me toca, neste momento, em contemplar esta Casa do Calvário. Como padres da Rua, estejamos onde estejamos, sabemos que somos aquele "pai de família" que põe seu coração junto de quem sofre e oferece o seu abraço de pai.

 De seguida, sento-me à varanda com a Fatinha, a Deolinda, a Joaquina, a Luísinha... um grupo de doentes e falamos sobre coisas que seguramente não interessam ao mundo ou simplesmente contemplamos em silêncio o passar do tempo.No Calvário sou um enfermo a ser tratado, cuidado com muito carinho. Todos os dias vêm lembrar-me que é a hora do pequeno-almoço. A meio da manhã, aparece a senhora Luísa para me dar a injecção. Depois, um pouco de leitura ou enviar alguma mensagem até à hora do almoço.

Às vezes, de tarde, um passeio, uma visita ou algum assunto da Casa para resolver. Às 17 horas celebramos a missa em nossa Capela. De seguida, sento-me à varanda com a Fatinha, a Deolinda, a Joaquina, a Luísinha... um grupo de doentes e falamos sobre coisas que seguramente não interessam ao mundo ou simplesmente contemplamos em silêncio o passar do tempo.

Chegadas as 19 horas, rezamos o Rosário no refeitório. Depois, comentamos um pouco como correu o dia e jantamos. No fim, o Dr. Abel nos prepara um chá de Cachinde com sabor a África e tomamo-lo na companhia do Fernando e do Zé.

Retiro-me para o meu quarto às 21 horas e os gaiatos para as suas camaratas, dando-nos as "boas noites!". Sempre que posso, faço algum exercício que mandou o médico. Espero recuperar-me no Calvário, mais por dentro do que por fora... deixando passar o tempo de fazer, abrindo as portas ao estar.
Padre Rafael