MALANJE

Ao chegar a Casa com o tractor, encontro o tio Joaquim (um antigo trabalhador desta Casa que tem 80 anos), vinha receber uma pequena paga que damos a todos aqueles que se reformaram e aos quais o Governo não dá nada. O motivo, não tinha nada para comer. Meto a mão no bolso e dou-lhe algum dinheiro. Com um sorriso diz que esta é a única família que lhe resta neste mundo. Não tarda muito em vir outro com uma receita para comprar medicamentos para seu filho que tem malária... meto a mão no bolso e mais algum dinheiro... Já não tenho dinheiro e chamo o Padre Telmo que me diz ter conseguido juntar alguns euros: se mos manda? Não é nosso dinheiro, apenas o repartimos, nada fica pelo caminho.

Quando fazemos assim, muitas pessoas acusam-nos de fazermos o que nos passa pela cabeça e de sermos irresponsáveis por não preenchermos um monte de documentos para justificar. Graças a Deus que não vem de nenhum subsídio do Estado ou de alguma organização que para recebermos cem devemos gastar duzentos em papelada. Outros nos dizem porque não deixamos que colaborem connosco outras organizações ou ao menos receber algum dinheiro do Estado. Não, obrigado. Com o pouco que recebemos, chega-nos para criar os nossos filhos e ajudar outras pessoas que vivem ao nosso lado.

Com isto não quero dizer que a cooperação seja algo de negativo ou que os projectos de colaboração não sejam bons, até nos alegramos e desejamos que continuem. Simplesmente entendam que a Obra da Rua tem outro modo de partilhar os bens. Não somos os salvadores de nada, nem queremos... nem vamos acabar com a pobreza, evidentemente. Apenas se trata de partilhar como se faz em família. Como um pai ajuda seu filho/a. Como uma mãe ajuda a sua filha/o... como os filhos aos pais ou entre eles. Só para quem nunca necessitou da da ajuda da sua família é difícil de entender.

Obrigado.

Padre Rafael