MALANJE

Depois de um ano de ausência da nossa Casa do Gaiato de Malanje, surpreende-me a degradação que Angola está a sofrer. A cidade está cheia de lixo nas ruas principais... muitos jovens esperam fazer um biscato (pequeno serviço que é pago no momento) para conseguir algum dinheiro. Fiquei surpreso quando uma motocicleta carregada com sacos de cimento deixou cair um, apareceram pessoas de todos os lados a recolher o cimento em caixas de papelão ou sacos. As quintandeiras (mulheres que vendem na rua) percorrem todas as praças para venderem um item e poderem comprar um peixe para o jantar. No outro dia, foi noticiado que mais de 700.000 empregos foram perdidos nos últimos cinco anos. A lei da sobrevivência volta à vida com o passar dos dias.

Aqui, esperamos que as chuvas possam sustentar tantos agricultores com as nossas máquinas. Procuramos por todos os meios reparar os tractores avariados - e com o problema do confinamento e a falta de material se torna uma tarefa impossível... procuramos recorrer a Portugal para que nos enviem as peças por correio.

Desde que cheguei, passo praticamente todas as manhãs na Carianga, montando o sistema de rega por aspersão... mais de vinte gaiatos passam o dia todo no campo enquanto outros se concentram na fábrica de blocos de cimento... Todos os dias aparecem pessoas com necessidades - e é uma realidade que a maioria das pessoas faz apenas uma refeição por dia.

Padre Rafael