MALANJE
A Obra da Rua está passando por um período de meditação e exige de cada um de nós humildade e sensibilidade para descobrir, hoje, que resposta o Espírito nos está sugerindo.
Quando o Padre Américo pensou que a Obra deveria ser dos pobres, para os pobres e pelos pobres, já estava a sugerir que os pobres adquiririam dentro da Obra um protagonismo de que a sociedade os privava, pois na maioria das instituições os pobres são beneficiários de caridade e não protagonistas de sua própria promoção. Nas Casas do Gaiato, podemos ainda sentir esta verdade tecida nas entranhas da Obra da Rua.
Num dos números das Normas de Vida dos Padres da Rua, é feita uma menção explícita de que os gaiatos são os legítimos continuadores. O facto deles mesmos não assumirem essa responsabilidade tem como consequência que o sejam outras pessoas, como já vivemos ao longo da existência da Obra.
A Obra da Rua surge como uma resposta da Igreja à realidade da pobreza, mais especificamente como o Apostolado da Caridade. O Papa Bento XVI diz mesmo em um de seus documentos sobre a caridade que a diocese deve nomear um vigário para a caridade. Nesse sentido, a Obra da Rua, como instituição pequena que é, contém em si o código genético da mais autêntica caridade cristã. Por isso, a presença dos Padres da Rua deve ser garantia para que a Obra não acabe por se tornar uma organização de assistência social.
O Padre Américo nunca aceitou que alguém considerasse a Obra da Rua como algo seu, pelo contrário, sempre reafirmou que era de Deus. E não apenas isso, mas que a Obra realmente começaria após sua partida para o Céu. O que sim é verdade, é que o Padre Américo nos mostrou um modo de viver o ministério sacerdotal com os pobres, como mais uma pessoa pobre. Por isso, muitas pessoas souberam compreender este modelo de vida, e sempre ajudaram, com sua generosidade e sacrifício, para que os Padres da Rua tivessem o essencial para cuidar daqueles que Deus lhes confiou.
Dada a falta de sacerdotes na Igreja, dificilmente podemos encontrar padres diocesanos que se animem a fazer parte deste modo de vida. Pior ainda, se não tivermos a oportunidade de propo-lo ou apresentá-lo nos presbitérios, nos seminários. O Padre Américo sempre dizia que nada sem os nossos Bispos; por isso mesmo terão que ser eles a abrir as portas para oferecer este modelo de vida.
Hoje, mais do que nunca, precisamos repensar, meditar, orar
e abrir novos horizontes. E isso
só será possível quando relermos a Obra com os olhos do
Evangelho, pegando nos pobres
com uma mão, e na Igreja com
a outra.
Padre Rafael