MALANJE
Hoje fui visitar a tia Teté, esposa de um antigo trabalhador que faleceu há cinco anos. Sempre que vou, levo-lhe alguma comida e um pouco de dinheiro, pois sei as dificuldades que passam. Quando chego, tia Teté começa a falar e a contar-me as suas coisas. Segundo o que diz um filha, só fala comigo. Às outra pessoas, ignora-as e nem as deixa entrar em sua casa.
Não tardaram em colocar a panela no fogo para preparar cinco quilos de arroz para comer com uns pedaços de frango que foram comprar naquele momento.
Entretanto, começaram a chegar um grupo de meninos e meninas para comer. Perguntei-lhes porque vinham e responderam-me que faziam o mesmo que eles quando não tinham que comer: vão de casa em casa e quando em alguma há algo para aconchegar a barriga, vão todos... e assim, um dia comem numa casa, noutro, noutra. Cada um pegava no prato daquele que terminava e assim até que a panela ficou vazia.
No fim, continuámos a conversar até que começou a chover. O ruído das gotas nas chapas era cada vez mais forte até que foi praticamente impossível ouvir e falar. Depois, falhou a energia eléctrica e acendemos uma vela. Na penumbra, em silêncio, esperámos que a chuva parasse... passaram duas horas.
Quando a chuva parou, despedi-me para regressar a Casa e ao abrir a porta deparei-me com um rio de água... tive de esperar uma hora mais para poder atravessá-lo e chegar ao carro.
Seguramente esta tormenta terá partido muitos telhados e destruído muitas casas de adobe... mas amanhã levantar-se-ão como se isso fosse absolutamente normal, como normal é comer uma vez ao dia ou ir ao posto de saúde e não encontrar o enfermeiro ou não ter medicamentos... como ir para a escola e ter de levar a cadeira porque a sala está vazia...
E o pior é que me pareça normal a mim e me desculpe dizendo que vamos fazer. Há muito que fazer... pois a pobreza termina onde começa a Justiça.
Padre Rafael