MALANJE
Chegámos ao centro de Maputo e entrámos num Infantário. No pátio, encontrámos algumas crianças e adolescentes com deficiências físicas e psíquicas; seis deles em cadeiras de rodas. Comecei a cumprimentá-los com um beijo e não tardou que viessem outros que me pegaram na mão e me levaram a passear para conhecer o Infantário do Primeiro de Maio.
Entrámos nas salas e encontrámos bebés — uns onze. Queria acolhê-los a todos nos meus braços... A responsável diz-nos: — Isto é um centro de acolhimento de crianças, aqui recebemos todos os que são abandonados por suas mães ou encontramos nas ruas. Depois, procuramos contactar os familiares, para que os tomem a seu cargo... e quando não é possível, mandamo-los para famílias de acolhimento. Como sempre, os deficientes psíquicos e físicos dificilmente encontram alguém que os acolha, e acabam por ir para outro centro na cidade de Matola.
O Centro Infantil da Matola, para além de receber as crianças do Infantário, recebe jovens e adultos, a maior parte deficientes. Este Centro, que actualmente triplica a sua capacidade, impressiona pela falta de condições e a mescla de meninos e adultos, homens e mulheres... Apenas cuidam de lhes dar de comer e pouco mais. Creio serem à volta de 60 neste Centro e uns 30 no Infantário.
A nossa Casa do Gaiato de Maputo recebe crianças destes Centros e alguns Gaiatos, já formados, vieram deles. Pensando um pouco, encontrei a solução: fretar um avião e levá-los todos para o nosso Calvário, em Beire, ou... trazer o Calvário para Moçambique. Depois lembrei-me que teríamos o mesmo problema que aqui: não termos ninguém que queira ficar com eles... Entendi que a pobreza dói, quando lhe pomos rosto.
Despeço-me de Moçambique com a alegria de deixar o Padre Fernando no meio da sua nova família: 154 rapazes que vivem em Casa, 70 que são apoiados fora; Quitéria, Raul, Maria José e mais 30 gaiatos adultos que acompanham o dia-a-dia da Casa. Eu, regresso a Malanje onde me esperam os meus e os meus problemas...
Padre Rafael