MALANJE
O confinamento também chegou a Angola. O encerramento de todos os centros educacionais, a proibição de trabalhos que não sejam saúde, segurança e alimentação, reuniões de qualquer tipo, celebrações religiosas... Nos países desenvolvidos ainda há alguma capacidade para controlar esta situação por algum tempo, mas na realidade dos países subdesenvolvidos, especialmente de África, tudo isto é uma história à parte.
Em nossa Casa do Gaiato, praticamente só vão trabalhar quatro funcionários, e porque o seu trabalho é na fazenda Carianga. Os rapazes dedicam-se a tarefas de limpeza, agricultura, fábrica de blocos... de manhã, e à tarde, têm aulas de reforço escolar dadas pelos mais velhos.
Presentemente, o peso da Casa está com os chefes e, na direcção, a irmã Marlene tem o apoio do nosso Andelson em tudo o que é contacto com o exterior. Infelizmente, nenhum dos Padres está, de momento, em Casa. Isto exige de nós uma comunicação constante para ajudar de qualquer maneira possível.
Há uma semana, um grupo de gaiatos, que estão fora da Casa, fez uma colecta de dinheiro e comprou alimentos para seus irmãos. Nestes tempos tudo está alterado... nós, aqui em Portugal, já vemos como os preços mudaram desde o Covid-19, em Angola só o podemos imaginar.
Agora, no mês de Abril e depois de celebrar uma Páscoa totalmente familiar, como no mundo todo, vamos preparar a terra para o cultivo de hortaliças. Hoje, mais do que nunca, é urgente apostar na agricultura, porque ninguém sabe quanto tempo esta situação vai durar e se teremos sempre o básico arroz com feijão. Certamente, quando possível, teremos de preparar um contentor para Malanje e outro para Benguela.
É verdade que todos temos que tentar subsistir com nossos meios, mas as Casas do Gaiato sempre tiveram a contribuição e a generosidade de seus benfeitores como parte desta família que também contribui. Um exemplo concreto é que este mês 80% dos trabalhadores não irão trabalhar e o Estado nos obriga a pagar salários completos... sem gerar retorno. O que mais me preocupa são aquelas milhares de pessoas que vivem do trabalho ao dia, que precisam sair de casa para colocar algo no estômago nesse dia... Será que para muitos ficar confinado é sinónimo de fome?
Para nós, cristãos, continuamos a ser convidados a outra Páscoa: para vermos sinais de ressurreição após a cruz ou em frente a um sepulcro chamado Covid-19... Este ano, para muitos, estes sinais são as pessoas que trabalham na saúde pública, segurança, transportes, comida... cuidando dos mais fracos. Não procuremos os vivos entre os mortos... em ti, em mim, em Nós.
Padre Rafael