Jorge da Silva Ferreira «Areosa»

O MEU AVÔ JORGE (o «Areosa»)

Cada vez que falava na Casa do Gaiato, um brilho surgia nos seus olhos e memórias eram contadas até chegar à hora de eu ir para casa. Memórias essas que serviam de ensinamentos, lições de vida, motivo para rir e até mesmo para matar as saudades.

O meu avô, natural de Rio Tinto, Gondomar, ficou órfão de pai muito cedo com mais quatro irmãos e uma irmã quando ainda eram muito pequenos. Sendo oriundo de uma família muito pobre, foi entregue à Casa do Gaiato onde cresceu e viveu até perto dos seus 16 anos de idade.

Ainda tive o privilégio de há uns anos, ter conhecido pessoalmente a Casa do Gaiato de Paço de Sousa onde o meu avô viveu. Ele mesmo fez questão de me levar lá para conhecer um pouco da sua história enquanto Gaiato. Levou-me a conhecer desde a cozinha ao refeitório e até à casa que ele chamava "Casa da Rouparia", local onde estava uma senhora que nos mostrou onde organizavam a roupa por tamanhos. Fomos aos dormitórios, ao campo onde jogavam futebol, à oficina e à casa principal. Em cada local havia uma história a contar, cheia de saudades e boas lembranças. Por fim fomos visitar a tipografia onde é feito o jornal "O Gaiato", onde ainda encontrámos alguém que o meu avô conhecia, de quem eu já não me lembro do nome.

Conheci também a Casa do Gaiato em Santo Antão do Tojal, onde durante alguns anos íamos entregar alguns bens como alimentos, roupa e calçado. Neste tempo ainda conheci alguns Gaiatos da época do meu avô como o Sr. Manuel Coco que mora, segundo me lembro, lá perto.

Ao longo dos meus 15 anos de idade esteve sempre presente a Casa do Gaiato, pois o meu avô fez sempre questão de referir o tempo que aí viveu com muito orgulho: desde o tempo que ele vendia o Jornal nas ruas, ao tempo que ordenhava as vacas, que apanhava grilos e os levava escondidos para o quarto até ao tempo que aprendeu a profissão de Serralheiro. Tudo isto influenciou a personalidade do meu avô Jorge, que era justo, muito honesto, trabalhador e com um sentido de família muito grande.

Ele contava muitas histórias do Padre Américo, que foi quem o levou pela 1ª vez a Lisboa e que se tornou numa grande referência. Infelizmente o meu avô partiu no dia 26 de Julho deste ano (2021) para junto do Padre Américo onde estará certamente feliz por reencontrá-lo.

Sofia Ferreira, neta do «Areosa»