ERA O ANO 1 N.º 22

Fala o Periquito

Eu lá andava a brincar a fazer coisas feias, roubava dinheiro para comprar cigarros, outras vezes para comprar pão, batia aos mais pequenos e grandes sem ter medo de levar deles, e andava na estação da Granja, pedia, roubava principalmente fruta e outras que fossem de comer. Eu não era ladrão mas os outros encaminhavam-me para ir roubar. Andava às malas na estação para ganhar dinheiro, e o dinheiro que me davam dava-o à minha mãe que ficava toda contente. Umas vezes ia para a igreja de lá da terra para a beira da porta onde uma senhora pedia para a creche e ela ia dar a sopa para a casa da Sr.a D. Maria Leonor e eu aproveitava essa ocasião para ir roubar o dinheiro e ia para Espinho gastá-lo. Uma vez eu e o Chinês fugimos para Espinho, comer arroz e beber vinho. Mas nisto passa um homem e pede-nos um cigarro, porque a gente estava a fumar e nós não lhe demos e ele foi ter com o chefe de lá e nós fomos presos. Levamos bolos nas mãos e depois ele telefonou para a Granja e a minha mãe e a do Chinês foram logo buscar-nos todas aflitas e quando chegamos a casa as nossas mães deram-nos uma trepa, mas ainda assim continuamos sempre a roubar. Uma vez cheguei muito tarde a casa e depois vim para o Porto e estive na Cadeia 2 horas porque fui à capela e mais o Chinês e dois irmãos dele tocar órgão, os dois irmãos dançavam e eu e ele tocávamos, e depois veio o Sr. P.e Mesquita com uma bengala e deu-nos porrada com ela.

Roubei dez escudos ao meu avô no dia em que vim da cadeia. De uma vez entrei dentro de uma casa e roubei broa para comer. Entrei dentro de outra casa e roubei broa e dinheiro e pintava lá a macaca.

Agora estou na Casa do Gaiato. Sou o chefe de camarata e roupeiro.

Pai Américo