EQUÍVOCOS

Ontem assim foram, hoje se repetem.

Corria o ano de 1944. Pai Américo dá à estampa n'O Gaiato um artigo intitulado «Das coisas novas», onde começa por dizer ter recebido um grande questionário remetido por organismo do Estado, cujas perguntas, de desadequadas que eram da estrutura da Casa do Gaiato, não lhes pôde responder. Um outro, relacionado com subsistências, teve resposta com algumas adaptações. E conclui, que vem da diferença de estruturas a «distância que separa os dois métodos de assistir: o oficial e o particular».

Era assim. Hoje nem tanto, pois os métodos seguem, num e noutro caso, a mesma bitola. Passados oitenta anos, de diversas proveniências, também a nós chegam pedidos de resposta a questionários completamente desadequados com a nossa realidade, pelo que não os podemos satisfazer ou lhes respondemos de forma obrigatoriamente atamancada.

Continuando a sua reflexão, Pai Américo debruça-se sobre a opinião de muitos que consideram que cabe ao Estado organizar e manter «a assistência ao nosso semelhante», (também hoje há quem pense assim, por ideologia ou convicção). Isto implica, diz, «muitas fórmulas, muitos regulamentos, muitos relatórios, muito pessoal, a costumada engrenagem do papel de 25 linhas». Este já não existe hoje, mas não estão fora de moda substitutos, as burocracias, bem como todos os restantes requisitos, o que não sintoniza com o nosso modelo familiar.

De seguida trata outro ponto de muito destaque para a nossa Obra, que é o do trabalho dos nossos Rapazes e do papel educativo destes, insubstituível, na comunidade. Estava de tal forma entranhado o hábito de haver «Maiores nas casas de educação de Menores», que choveram os pedidos de «nicho» no dealbar da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, com os currículos de então - «até bacharéis!» Mas porque «o trabalho caseiro racional e alegre» é que valoriza o Rapaz e o salva, ninguém o deve substituir. E dá exemplos... os quais «provam o nenhum acerto de critério da aglomeração do funcionalismo dentro destas casas.» O critério é a vida em família - «Somos uma família pobre e numerosa. Não podemos ter criados. Também não admitimos vigilantes. Queremos autonomia.»

«O nosso Governo interessa-se. O nosso Povo sente e pensa como O Gaiato... E guardo no meu peito um estuante desejo que outras casas se levantem e que, as congéneres existentes, saibam arriar a bandeira antiga, sacudir a poeira e içar a nossa, a das coisas novas.»

Foi e é pela incompreensão, desinformada ou voluntária, que estes equívocos fizeram e continuam a fazer obstrução a um método tão natural como a família, com provas dadas ao longo de oito décadas. O desprezo pela riqueza gerada pela diversidade continua a empobrecer. Será uma sina das terras lusas depreciar o que é seu? (vd. O Gaiato, n.º 19, de 12-11-1944)

Padre Júlio