
DOUTRINA
A doutrina da Igreja por meio de obras sociais
A igreja da Golegã fica no meio da vila. É um largo. A estrada corta e passa rente. O pórtico diz, a quem passa, que ela é manuelina. Muitas vezes por ali tenho passado a caminho de Lisboa, mas nunca entrei por ver a porta fechada. Desta vez não foi assim. Íamos na jornada do Alentejo. Porta aberta. Algumas pessoas no átrio. Disse ao Avelino que parasse. Entrámos. É, na verdade, da era e do estilo manuelino. Não sei que segredo tinham os mestres daquele tempo. O risco deles sabe ao Eterno. Das suas linhas saíram casas de Deus e portas do Céu. Eram igrejas de rezar. A da Golegã é assim.
Não é aqui o sítio de críticas, tão pouco nós temos elementos e ciência para o fazer. Não temos, mas fico triste. Fico muito triste ao entrar em certas igrejas novas e observar o que vai lá dentro e como elas são feitas por fora. Fico triste e não me quero afazer a elas. Só digo que os arquitectos que em nossos dias se metem a fazer igrejas, deviam primeiramente provar que sabem o Catecismo e só depois riscar.
Após alguns minutos de demora reparo em uma caixa à saída da porta que diz: «Esmolas para as obras sociais da paróquia».
Nunca tal vi! Um apelo assim, concreto, palpável, compreensivo, terreno, feito de carne e de sangue não tem estado no costume das nossas igrejas. São os santos. São as alminhas. Caixas para tudo, menos para o que mais hoje importa.
Não conheço o actual prior da Golegã. Não é preciso. Deste lugar e hora em que escrevo, peço licença para beijar humildemente as suas mãos de sacerdote. Na mesma atitude e igual intenção, peço a todos os habitantes da vila que animem e encorajem o seu pároco a estender o culto de Deus nas obras sociais da sua paróquia. Habitantes da vila. Crentes e descrentes. Naturais de lá e actualmente vivendo fora. Aonde quer que se encontrem. Quem quer que sejam. Ajudem o pároco da freguesia. Se não na caixa, lancem esmolas no seu regaço. Ele quer trabalhar.
É uma graça de Deus que na Golegã haja quem compreenda e procure realizar a doutrina da Igreja por meio de obras sociais. Não devemos deixar passar a hora. É preciso temer Jesus Cristo. Ele pode não regressar…!
As letras da caixa de esmolas têm de ser o ideal de todo o jovem sacerdote que sai dos nossos seminários. Digo da caixa de esmolas que vi na Golegã. Outras não interessam. O jovem sacerdote há-de sair com esta paixão e alimentá-la entre o povo que o Senhor lhe destina por meio da nomeação dos nossos superiores. A seguir ao altar e por complemento do Santo Sacrifício, têm de ser postas em prática as obras sociais da paróquia. Não certamente as mesmas em todas, mas sim as indicadas em cada uma. Elas são precisas. Não há povo nem lugar que as dispense. Não acudir aos que precisam é fomentar a miséria e criar revoltados.
PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, 1.ª ed., 1986, pg 349-351