DOUTRINA

Uma testemunha

do berço da Obra da Rua

Temos aqui uma tal carta de um tal assinante que me não furto dar-lhe publicidade e faço dela a «Nota da quinzena». Ei-la:

«Venho dar conta breve da impressão que senti profundamente ao visitar pela primeira vez — desde que a Obra da Rua chegou ao meu conhecimento já muito comovido pela precedente obra de assistência domiciliária realizada evangelicamente em Coimbra, sem distinção de pessoas — ao visitar pela primeira vez, repito, a Casa do Gaiato de Paço de Sousa, onde os gaiatos se vão regenerando cristãmente. E tão boa impressão senti, que participo que vou dobrar o pagamento da assinatura d'O Gaiato.

Bem fora que os assinantes vissem a bela realização cristã da Obra da Rua, a que V. deu uma feição original, que fica provando quanto a Igreja é maleável às evoluções do século, depurando-as até as tornar dignas do Seu Fundador.»

O assinante, quem quer que seja, esteve em Paço de Sousa, viu como nós somos e tomou uma resolução: dobrar a parada da sua assinatura. Aqui está uma coisa muito bem feita. Não deixou ficar o seu cartão. Não ofereceu os seus serviços mai-la sua casa. Nada de cerimónias. Observou. Obrigou-se. Cumpriu. Não perguntou se o Estado ajuda, como fazem outros que nos visitam. Não quis saber se os ricos dão. Ajuda ele. Dá ele. «Vou dobrar o pagamento da assinatura.» Cem por cento! Muito contente deve este senhor ter ficado por tudo quanto viu! Muito! Retirou-se da nossa Aldeia possivelmente a falar só, no silêncio de onde costumam nascer as mais saudáveis resoluções.

Este assinante é uma testemunha do berço da Obra da Rua. Viu de como ela, a Obra, arriscou os seus primeiros passos em visitas domiciliárias aos Pobres de Coimbra. A aurora. Coimbra, como todas as cidades, tem os seus lugares reservados à acção dos sacerdotes. São o nosso clima. A nossa esfera. A nossa gente. Estou neste momento a ouvir a palavra de um sacerdote que ali trabalhou por muitos anos: «O dia em que não visito um Pobre, não sou Padre». Evangelizava. A nossa missão é evangelizar. «Evangelicamente» é o advérbio de que o nosso amigo se serve, na sua carta, para designar o modo de ser e agir da nossa Obra.

«Sem distinção de pessoas» é outra qualidade que impressionou e comoveu o autor da carta. A testemunha de vista daqueles tempos! É norma da Igreja. Norma do seu Fundador. Ele é o Mestre. Quem fizer como Ele, acerta.

Há mais outra afirmação muito curiosa na carta a que nos reportamos: é o poder de adaptação «às evoluções do século», sem tocar, nem de raspão, nos princípios eternos. Esses ficam.

PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, 1.ª ed., 1986, pg 177-178.