DOUTRINA

Menos metralha e mais amor

Vinha n'O Comércio do Porto: Cinco homens armados assaltaram uma camioneta de passageiros. Saíram das giestas, fizeram alto e limparam. Eram cinco salteadores. Horas de pavor!

No final da limpeza, um deles pergunta ao chefe se se mata o motorista. Que não: «Furam-se os pneus». Uma velhinha chora a perda do seu cordão e o chefe manda entregar: «Tome lá, não chore mais».

Isto deu-se a trinta quilómetros de Braga, na estrada de Chaves e no reino de Portugal.

Foi chamada uma força da G.N.R. que anda por lá a ver se apanha os criminosos e bom será que assim aconteça. Mas, se me fosse permitido falar, eu havia de dizer que o verdadeiro remédio está mais no prevenir do que no perseguir. O bandido nasce da criança e medra na rua. É um nascimento e um crescimento perigoso porquanto se faz sem dor. Nasce e cresce no meio do trigo bom sem que alguém se aperceba; e em determinada altura manifesta-se. «Foi na estrada de Montalegre», diz O Comércio do Porto. Uma dúzia de homens de bem viram ali e sentiram o mal de que jamais deram fé e, quem sabe? até, se para ele concorreram!...

Os bandidos não eram totalmente maus: «Não mates, fura os pneus». Respeito pela vida. «Tome o seu cordão e não chore.» Piedade. Não eram de todo maus!

Estes casos hão-de repetir-se. Não há segurança possível. Metralhadoras à popa e à proa metem medo, sim, mas não afastam o mal. É, até, por amor dos tais metralhadores que chegamos a esta perfeição. Que o digam os da Scotland Yard!

Que fazer? Não haverá remédio? Há, sim senhor. Ponham o Padre Cruz numa camioneta e deixem vir os bandidos! Menos metralha e mais amor.

PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pg. 119-120