
DOUTRINA
Se as bagatelas levantam almas, de que serve o monumental?!
Era um grupo de senhores, algures. Falava-se d'O Gaiato e de «Um
caso» que lá vinha. Cada um contava a seu modo as impressões que colhera na
leitura do mesmo quando alguém levanta a voz e exclama: «Não posso ler o
jornal! Não quero ler O Gaiato! Tenho medo de me tornar bom!»
Este senhor que eu não conheço, é bom; mas quer ser melhor. Aquele seu «não quero» e «não posso» é maneira de afirmar. Quer. Pode. É leitor de ponta a ponta. Ouve-se dizer que as ocasiões fazem o homem. Não fazem, mas revelam-no.
O ponto mais fraco que o homem tem, é desconhecer-se. Andamos uma vida inteira por casas estranhas à cata de quem nos diga o que somos e até, para maior desgraça, vamos buscar segredos às chamadas pessoas de virtude! Mas as avisadas não; essas sabem que nós «somos pouco menos do que os anjos». Nesta certeza repousam, por ser uma verdade eterna - e vivem.
Sim. «Pouco menos do que os anjos.» Quantos senhores de categoria, como o que hoje apresento, não se terão encontrado a si mesmos na leitura dos episódios que O Gaiato costuma trazer - quantos! Eram enigmas. Andavam perdidos no mundo, fugidos de si, a pedir chuva de fogo, como outrora os discípulos ao Mestre - e agora não! A ocasião da leitura, revelou-os. Acharam-se. Começam a saber de que espírito são: Paulo minus ab angelis.
Senhor dos Céus; se as bagatelas levantam almas, de que serve o monumental?
PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pp 89-90