DOUTRINA
A solidariedade do Pobre!
Há dias, assomei à Estação Nova, casualmente em maré de grande angústia: Certa mulher do povo, com dois gémeos ao colo, queria ir para Lisboa ao encontro do marido e não tinha o dinheiro da passagem. Os carregadores rodearam-me:
- Acuda à Pobre.
Deixei a importância do bilhete nas mãos do porteiro (o comboio partia de madrugada) e retirei-me, à vista de olhos húmidos de compaixão. Homens que por nada espancam suas mulheres, choram com pena doutras!
De manhã cedo, no dia seguinte, calhou-me passar ali. Os mesmos homens de ontem, muito gratos e muito alegres, comunicam que passara um carro para Lisboa onde a mulher foi por esmola: «Tome o dinheiro», disseram. «Guarde para outra necessidade». «Guarde» - honestidade. Podiam ter ficado com ele. «Para outra necessidade» - amor do próximo. Bem podiam eles ter pensado em si mesmos: os outros que se governem; mas não. Ai!, fôssemos nós bons, que o Mundo sê-lo-ia também!
Os pequeninos das Colónias, porque tenho mais dinheiro, querem que eu faça bem a outros:
- Chame o «Barba-Azul»...
Os carroceiros de hoje, ontem garotos da rua, tomam como feito a si mesmos o bem que se faz aos mais:
- Guarde, senhor padre, para outra necessidade.
A solidariedade do Pobre!
PAI AMÉRICO, Obra da Rua, 5.ª ed., 2012, p 23