O NOSSO CALVÁRIO
Dia 9 de Janeiro do corrente ano, após duas intervenções nos meses de Novembro e Dezembro, por nós consideradas inapropriadas e deploráveis, pelo menos na forma de realização das mesmas, boas notícias aconteceram para a nossa Casa do Calvário e do Gaiato de Beire. Apesar desses desencontros acontecidos e que porventura ditaram divergências, o dia acima referido, além da minha presença, como Director do Calvário e da Casa do Gaiato de Beire, esteve presente o Sr. Director da Obra da Rua, Pe. Júlio Pereira. Estiveram ainda os representantes do Instituto da Segurança Social, IP, nomeados pelo Sr. Presidente do Conselho Directivo, Dra. Sandra Alves e Sr. Arq. Fernando Almeida. Também contamos com os membros do elenco directivo da CNIS, acompanhando o seu presidente, Pe. Lino Maia, bem como o Sr. Vice-Presidente do Município de Paredes, acompanhado pelo o Sr. Arquitecto, Chefe de Divisão do Urbanismo e a Sra. Vereadora da Cultura e Acção Social, Dra. Beatriz Meireles, nomeada representante da Câmara Municipal, para acompanhamento deste processo. Conforme vontade explícita do Sr. Bispo da Diocese, e como seu representante esteve o Sr. Ecónomo Diocesano, Pe. Samuel Guedes.
Neste encontro, preparado antecipadamente por uma deslocação a Lisboa, à sede da Acção Social do ISS, houve oportunidade de definir vários equívocos e traçar alguns vectores fundamentais para a resolução da situação "estranha" e "incómoda" que aconteceu com o nosso Calvário e Casa Gaiato de Beire, depois de tantos anos a acolher os mais rejeitados da sociedade, sem se questionar qual a sua condição religiosa, económica, familiar ou qualquer outra a não ser a sua condição de pessoa, que em muitos casos e relatados ao vivo pelo Pe. António Baptista se encontravam em miseras condições, muitas delas inumanas...
Não tenho dúvidas que todos os intervenientes, cada qual do seu ponto de vista, sintonizamos as nossas boas intenções e delineamos critérios e opções para implementar os procedimentos necessários à "legalização" institucional e daí derivada a necessária Licença de Habitabilidade, indispensável para cumprimento de requisitos legais...
Compreendendo-se, nos idos anos 50, que as questões legais relativas a estas matérias eram inexistentes e por isso a despreocupação com estas questões. Assim foi construída e funcionou maravilhosamente esta instituição como pode ser atestada por inúmeros testemunhos intra e externamente à "Obra"...
Como em qualquer situação de mudança existem sempre disrupções, quer pelos hábitos e vivências que são alteradas, quer pela permanente "recusa" à mudança. Pois "a zona de conforto" é sempre uma segurança pessoal. Por tudo isto e pela deslocação para outros edifícios trouxe alguma perturbação compreensível aos nossos doentes e rapazes. Mas tudo isto foi imprescindível para ser possível implementar o processo em curso e manter os que ficaram na sua casa de sempre. Eles são os heróis e o sinal vivo desta casa. Apesar de algum sofrimento, mas com o esforço de todos, vamos mantendo a vitalidade institucional.
Mas para ser possível continuarmos de "portas abertas" com os que ficaram, tivemos de assumir compromissos de requalificação de alguns espaços, para provisoriamente alojarmos os doentes e rapazes que restaram entre nós.
Por isso, nos dois edifícios escolhidos para este alojamento transitório, realizaram-se obras de restauro e instalou-se novo sistema eléctrico, para possibilitar a colocação de aquecimento.
Também todo o sistema de abastecimento de água foi remodelado, com águas quentes e frias, de modo a proporcionar um maior conforto.
À posteriori todas as intervenções realizadas foram verificadas pelos intervenientes neste novo caminho que estamos a realizar.
Apesar de continuar a publicação sobre "O Nosso Calvário...", gostaria de comentar que, em reunião no ISS Lisboa, nos foi dito que tudo se faria, desde que verificadas as condições acordadas, para se reunificar a "família", qual vontade permanente dos nossos doentes que constantemente nos interpelam acerca das obras e quando eles poderão regressar a sua casa. Isto nos dá alento para caminharmos com a esperança em mais breve possível acontecer a convivência fraterna que sempre existiu entre nós! (continua...).
Padre Fernando Fontoura