DA NOSSA VIDA

Confissões

Fartos que andamos todos de acusações públicas, por isto ou por aquilo, com este ou com aquele, com fundamento ou sem ele, sabe-nos bem e alivia-nos um pouco, passar por outras experiências em que a verdade se assume e se conhece no simples trato entre os envolvidos nos problemas.

Vem isto a propósito do que entre nós sucedeu, em três ou quatro situações com os nossos Rapazes.

Nas brincadeiras dos nossos mais pequenos, qualquer lugar, mais à mão, onde se possam esconder uns dos outros, serve para fazerem o jogo das escondidas. A nossa capela está mesmo ali à frente do cruzeiro, centro de onde partem para lá tentarem voltar sem serem descobertos. Ora assim fizeram o Manelinho e o Nuno, que não hesitaram em se esconderem no interior da capela.

Lá, na nossa capela, está também Nosso Senhor "escondido", como se Lhe referia o pastorinho Francisco. E decerto não levou a mal aos nossos Rapazes, que também eles ali se fossem esconder dos companheiros de brincadeira, embora saibamos nós e como lhes foi dito, que há outros lugares próprios para brincarem.

Dentro da capela, procurando o cantinho mais a jeito, acabaram por deitar ao chão as velas do altar, as quais tendo um recipiente para a "cera líquida", se racharam, ficando inutilizados.

Isto sucedeu por duas vezes. Na primeira vez fora o Manelinho e na segunda o Nuno.

Claro que não sabíamos quem tinha(m) sido o(s) autor(es) da avaria, mas não andávamos muito longe da verdade ao suspeitar que se tratava dos «Batatinhas» da casa-mãe.

Reunindo-os a todos de uma vez, lançámos o assunto e perguntámos se teria sido algum deles o autor da asneira. Não foi preciso insistir muito para que o Manelinho, com um sorriso maroto, se acusasse, dizendo que da primeira vez fora ele que deitara a vela ao chão. Mas tinham sido as duas danificadas! Então o Nuno, com o seu jeito compenetrado e sereno, disse que fora ele a deitar a outra vela ao chão.

Feitas as devidas advertências, mais de contentamento interiormente saboreado que de censura, ficou o caso sanado e que esperávamos não voltaria a acontecer.

Mas não se ficaram por aqui as travessuras julgadas neste pequeno tribunal que levámos a efeito com os nossos «Batatinhas»...

Deu-se o caso de aparecerem escritas numa parede exterior do nosso refeitório, umas letras que embora pequenas, saltavam à vista porque a parede é branca. E, também, numa das janelas dos cicerones, alguém escrevera com um marcador.

Postas no ar estas escritas, feitas em lugar impróprio, falou de imediato o Quintino, assumindo a autoria das letras na janela. O Nuno, não demorou a assumir as da parede.

Que melhor fruto quaresmal poderia colher dos nossos «Batatinhas» como estes? É que não andamos muito habituados a estas transparências! Como a verdade nos ajuda a crescer com confiança!, fazendo destes acontecimentos uma boa aprendizagem para vencer os erros, que todos cometemos, e que os nossos «Batatinhas» ainda hão-de cometer ao longo das suas vidas.

Padre Júlio