DA NOSSA VIDA
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A nossa Obra está indubitavelmente marcada pelo acolhimento ao rapaz da rua, sem família, abandonado e entregue a si mesmo. É a obra do Gaiato, popularmente chamada.
Sabemos que no tempo de Pai Américo, esta situação em que as crianças se encontravam, se devia, em grande parte, às enormes carências materiais que as respectivas famílias tinham. Quantas vezes os filhos tinham de abandonar, em idades muito pueris, a casa paterna e porem-se a caminho em busca da sobrevivência!
Com o andar dos tempos, as causas que punham as crianças a necessitar de acolhimento foram-se alterando, dominando hoje problemas intrafamiliares e de marginalização social.
Pai Américo não foi só um Pai para as crianças da rua, fez-se companheiro de vida de todos os Pobres em suas pobrezas. Depois, durante e antes da criação das Casas do Gaiato, nunca se deu exclusivamente aos rapazes da rua. Toda a injustiça que lhe ferisse a alma era motivo para o fazer aproximar do Pobre para lhe amenizar a sua pobreza. Doentes, presos, explorados, passando fome, sem habitação…, mas também os favorecidos materialmente, todos eram receptores e tema da sua inconformidade com a injustiça. Daqui lhe nasceu o impulso para criar o Calvário, para doentes abandonados, pobres e incuráveis, daqui lhe nasceu a luz para iluminar Portugal com centenas ou milhares de casas à medida do Pobre delas, com o Património dos Pobres.
Certamente que hoje Pai Américo não mudaria o objecto da sua predilecção, o Pobre. Por tal motivo, não passaria indiferente ao lado de homens e mulheres prostrados no chão, nas ruas das cidades do país, no meio de cartões e cobertores, os quais passaram a ter na rua, nua e crua, o seu lugar para viver, incapazes de mudar a sua situação. Sabemos que as causas que os colocaram naquele estado podem ser complexas e até de difícil resolução, mas dar a mão ao que está prostrado na vida é a resposta da justiça.
Hoje a vida está envolta numa teia escravizante, difícil, mas não impossível de desbravar, o que a fome e sede de justiça é capaz de alcançar.
Estamos, nos nossos dias, perante esta pobreza, desafiados a viver a lei de Cristo. Ela diz-nos para darmos de comer a quem tem fome, e a fome é não só de pão, mas também de dignidade. Dignidade humana. Alguma outra lei pode impedir a vivência da lei do amor cristão?!
Padre Júlio
