
DA NOSSA VIDA
Quem somos
Nós não somos uma obra social propriamente dita, somos uma Obra da Igreja que vive a caridade expressa em gestos humanos com rosto social. Entre nós, não há fronteiras entre uma e outra, nem uma começa quando a outra acaba, ambas vivem em simbiose de tal modo que uma não pode anular a outra. Mas, a força da obra é a caridade, que resplandece em corpo social.
Apesar das obras incríveis que a caridade realiza nas suas variadas facetas, ao longo dos tempos surgem-lhe sempre opositores que, brandindo a sua espada de poder conseguem esvaziar, em muitos, as suas convicções sem alicerces, levando a sua avante.
Pai Américo, no seu tempo, teve de se munir de estatutos oficiais para se acreditar e poder levar a Obra para a frente. No texto que publicou n'O GAIATO em Maio de 1952 intitulado "Um equívoco", faz alusão às dificuldades que teve de vencer até alcançar a credibilidade oficial, não para mudar o rumo ao fundamento do seu trabalho, mas para poder trabalhar segundo os seus propósitos: «Aceitei os três documentos [estatutos] como facilidade de agir, mas nunca com o propósito de fazer como lá vem. Eu nunca li nenhum deles».
Pôde assim dizer e fazer: «Nós não somos uma obra de Assistência. Sem olhar ao cofre, vamos direitos às feridas do Pobre. O abandonado que nos bate à porta, entra e ao depois, vamos procurar o seu pão. Uma obra de Assistência não faz assim.»
«Famílias que somos, aonde o Pai come à mesa e reparte com seus filhos, não nos parece avisada nem necessária a jurisdição da Assistência. Esta tem de se exercer, sim, mas doutra maneira e por razões mais altas que os simples subsídios.»
Hoje, para além da necessidade de estatutos, há a obrigação de se cumprir com o que se legisla para as obras sociais. Em vez de se verificarem os frutos produzidos vai-se à raiz da árvore verificar se tem todas as condições para estar plantada naquele terreno. Se não tiver não pode produzir. Mas, como não se trata de nenhuma árvore, mas de um corpo de pessoas, há outros importantes factores que não foram tidos em conta com reflexos na qualidade dos frutos produzidos. Então pelos frutos se conheceria esse corpo social.
A dificuldade de Pai Américo é hoje mais acutilante: «Para isso venho hoje a esta coluna chamar pelos Homens de boa vontade, que me ajudem a sair da encruzilhada, com um corpo de doutrina nova.»
«Sem favor, nem privilégio, nem nada de pessoal, havemos de trabalhar por uma lei nova para reger uma coisa nova (…) Ao contrário do que sucedeu no princípio, nós hoje desejamos ter a palavra ao pé do Legislador que nos conheça e ame e saiba e possa.»
Em jeito de conclusão, pretende-se a vida no espírito de vida cristã, com todas as consequências, que tem o seu modelo na família de Nazaré, aonde o regresso é "progresso social cristão". Pretende-se ser «a porta aberta ao indigente de qualquer terra, cor, idade, credo. Todos os defeitos. Todas as pústulas. Todos os vícios. Eles são nossos em qualquer tempo, em todo o local, todas as idades, na vida e na morte.»
Padre Júlio