DA NOSSA VIDA

Padre Horácio

No próximo dia 6 de Maio completam-se 25 anos do falecimento do nosso Padre Horácio. Toda a sua vida sacerdotal foi vivida na Obra da Rua, que começou a conhecer no Seminário Menor da Figueira da Foz. O jornal O GAIATO que recebia e apontava aos seus colegas seminaristas, foi quem lhe foi consolidando a vontade para dedicar a sua vida ao serviço dos Pobres na Obra da Rua. De tal modo o acarinhava que até as pequenas notícias, como as ofertas que a Obra ia recebendo, não escapavam à sua leitura e, certamente, admiração. Como deixou escrito numa crónica n'O GAIATO, «foi em 1939 que conheci Pai Américo pela sua crónica semanal "Pão dos Pobres" no Correio de Coimbra. Era eu então aluno do Seminário da Figueira da Foz. Depois, em Coimbra, continuei a lê-lo já com o título "Obra da Rua".

A Casa em que lhe coube exercer a paternidade como Padre da Rua, foi a Casa do Gaiato de Coimbra, que Pai Américo lhe entregou. Estávamos no final da primeira metade do século XX.

Incarnando na sua vida o espírito de pobreza que Pai Américo respirava e o testemunho difundido de S. Francisco de Assis, viveu almejando a Paz e o Bem, que contêm em si a alegria e a fraternidade e o próprio Deus que é o Bem.

Vida em família, enchia o ambiente da comunidade de Miranda do Corvo, que se alargava a todas as Casas da Obra, e se mostrava sempre que alguém ali chegava proveniente de outra Casa, pelo acolhimento e atenção.

A par da vida da Casa do Gaiato, tinha nos Pobres e no Património dos Pobres o outro enlevo que o atraía e ao qual dedicava boa parte de si. «Era domingo. Celebrei de manhãzinha para a nossa comunidade e destinei o resto daquele dia para os Pobres. A primeira caminhada foi para um bairrinho só deles. Dei uma volta geral e entrei em todas as casas que me foi possível. Assinei requisições, beijei crianças, muitos meninos e meninas beijaram as minhas mãos que o meu Bispo ungiu e que também fazem mal, ouvi desabafos, dei conselhos, pus a mão no bolso da batina e deixei alguma coisa noutras mãos, vi lágrimas, recebi sorrisos, enchi a minha alma da vida deles. Um grupo de crianças acompanhou-me, como de costume, até à estrada e tomei o rumo da horrível barraca falada na última quinzena e que me deixou intranquilo, por causa da sorte daquele menor para quem não temos um cantinho».

Às suas promessas de ordenação presbiteral juntou as do dia-a-dia, na fidelidade à vocação que Deus lhe deu: «Hoje foi um dia de reflexão para os sacerdotes da cidade e seus vizinhos. No fim do almoço houve uma hora livre. Fui rua acima e virei para a rua da Trindade. Procurei caminhar pelas ruas e becos que Pai Américo percorreu muitas vezes e por onde encontrou o seu Cristo sofredor que o apaixonou para sempre (…) Nesta tarde tudo me pareceu um sinal sensível de que devo continuar a pregar e a viver a vida de Jesus Cristo pobre e presente em todos os Pobres. Prometi.

As citações foram retiradas do livro:
PADRE HORÁCIO – Crónicas Escolhidas e Documentário Fotográfico.
Editorial Casa do Gaiato.

Padre Júlio