DA NOSSA VIDA

Visitas

De vez em quando é bom voltarmos o nosso olhar para dentro da comunidade, para os que estão presentes e para os que estão ausentes. De quando em vez, recebemos a visita destes, por vezes vindos de longe, movidos pela saudade ou por outra inquietação qualquer.

As experiências não se transmitem, como dizia Pai Américo, por isso, muitas vezes as palavras que trocamos não nos levam muito longe na plena compreensão da vida, e muitas coisas nascem na nossa consciência como percepções e não como factos bem conhecidos.

O sangue lusitano que os anima, leva-os, por vezes, muito longe de nós, a recantos do planeta que não pensávamos alcançassem. Por necessidade e com arrojo, partiram daqui em busca de um mundo novo, com ou sem alguém conhecido a esperá-los.

Esta maneira tão característica dos portugueses, que é também dos rapazes gaiatos, de começarem a sua vida independente da família em que se criaram, foi também a que Pai Américo escolheu, na sua juventude. Em 1906, com 19 anos de idade, meteu-se num vapor e seguiu para Moçambique, onde o aguardava o seu irmão Jaime. Esta sua experiência, muito importante para a sua vida, transmitiu-a mais tarde aos seus rapazes, tomando alguns deles o caminho da África, Angola e Moçambique, para lá se lançarem na construção autónoma das suas vidas e famílias que constituíram.

Hoje, como ontem, a idade da juventude é idade de sonhos e de consolidação do carácter e da personalidade, do que não se pode alhear as experiências passadas, tantas vezes revisitadas no pensamento e pelos sentidos, na passagem pela casa paterna.

É o que trouxe um dos nossos, nestes dias, na visita à sua terra de origem, que não esquece, às pessoas e lugares que lhe trazem à memória afectos pelos que já partiram e contacto com os que lá permanecem, no ambiente que, embora querido, um dia deixou.

Fiel a si mesmo, na sua maneira de ser e na maneira de encarar a vida, apresentou-nos as suas concretizações, resultado do trabalho e da orientação que dá à sua vida.

Mas como o homem é, não só ele mas também a sua circunstância, o ambiente que o rodeou teve grande influência no que ele é hoje, enraizado no âmago do seu ser, e o ambiente em que se move desde que nos deixou, não deve ofuscar importantes valores, para que não fiquem esquecidos.

Que a ninguém se aplique a palavra de Cristo: Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? Ora, na alma, reside a vida e nada há que se lhe possa sobrepor. É valioso e sempre actual o ensinamento de Pai Américo: «Vale mais a alma do que o corpo».

Padre Júlio