DA NOSSA VIDA

85 anos

Sempre que entra um novo ano o nosso olhar volta-se para Miranda do Corvo, onde Pai Américo edificou a primeira Casa do Gaiato, corria o ano de 1940 e o dia 7 de Janeiro. São portanto 85 os anos que esta nossa Casa conta a partir de agora.

Esta, como as outras nossas Casas em Portugal, encontraram sérias dificuldades na fase da sua implantação, atritos e ameaças que Pai Américo teve que suster e sofrer.

Hoje as dificuldades são outras, mas não deixam de ser contrariedades. O simples facto de termos camas vazias nas nossas Casas, significa que temos possibilidade de acolher mais crianças do que as que temos. Esta situação causa-nos algum desgosto, pelo menos embacia o nosso olhar com um sentimento desagradável. E ele há tantas a perderem a sua infância e juventude nas ruas ou nos campos de refugiados! Dá pena. Mas, a juntar a isso, não podemos deixar de antecipar o reverso da medalha: Que serão estas crianças e jovens no futuro, quando forem adultos? Penso que a resposta a esta questão está na ponta da língua de todos, tão fácil é prever o seu futuro: Hoje desprezadas amanhã revoltadas.

Esta era uma das bandeiras de Pai Américo: «Uma tese: é mais barato prevenir crimes do que suportar criminosos. Eis os felizes habitantes da Casa do Gaiato hoje colocados naquilo que é seu, a colher os saudáveis frutos de uma vida que jamais conheceram. Vindos de terras de ninguém, em uma obra social cujo pensamento dominante é o bem espiritual dos seus filhos.

Não serão amanhã os nossos inimigos, porquanto a tempo os fomos libertar da maior escola de perversão que há no mundo: a rua. Eles eram da rua. Menos afluência ao banco dos réus, mais portugueses de lei num Portugal melhor.

Métodos?: Amar. Como é que eles se prendem numa Casa sem prisões?! – Pelo amor. De que modo se erguem? – Sentindo-se amados. E que fazer dos mais difíceis, dos mais repelentes, dos mais viciados? – Amá-los mais, amá-los até ao fim. Basta-lhes a desgraça de o serem. Assim amou o Mestre. Assim ensina o Evangelho».

Hoje, como ontem, os perigos e as consequências são as mesmas. Salvar vidas, é obrigação de todo o cristão e dever de todos os que desejam viver numa sociedade pacífica, justa e harmoniosa, onde mais que a sua segurança, nestes dias tão badalada, se procure salvar vidas inocentes, contribuindo para que se tornem pessoas íntegras e integradas no ambiente social que é de todos e para todos.

Padre Júlio