DA NOSSA VIDA

Compaixão

Fomos visitar um dos nossos pobres, na casa aonde nunca havíamos ido. Um quarto amplo é a sua casa. A renda leva-lhe metade da pensão que recebe. O que fica tem de cobrir as despesas de água e luz e alimentação, para o que é insuficiente. Pelo menos, por meio ano, fica a conta da luz por nossa conta. Até há pouco, uma irmã ocupava quarto contíguo, ajudava-o na alimentação e no arranjo do quarto porque ele não tem condições físicas para o poder fazer. Como esta foi embora, é agora uma vizinha que lhe dá apoio na confecção dos alimentos. Também nós teremos de o apoiar nesta necessidade. Não sei como conseguirá manter o quarto minimamente arrumado. Iremos acompanhar e ajudar a remediar a situação.

Era aqui que as Criaditas dos Pobres, de quem o nosso Padre Manuel Mendes tem falado, entravam em cena. Mulheres sem sentidos para aquilo que lhes repugna, viram na pobreza e na sujidade que a acompanha tantas vezes, uma óptima forma de servir a Cristo, Ele também repugnante aos sentidos, no Seu Corpo martirizado por nossa causa, a caminho do Gólgota.

Nós sabemos que hoje tudo isto se trata com luvas e nem todos o podem fazer. Não importa o sentimento com que se faz, mas a imagem revelada ao exterior. Não é a pessoa de Cristo que é tratada, mas uma pessoa que de um serviço carece e se paga. Cada passo ou cada gesto custa xis.

«O que fizestes a um dos Meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes». Pequeninos, independentemente da idade.

Solucionadas as carências deste modo, Cristo nos Pobres já não precisa de nós. As Criaditas dos Pobres vão-se extinguindo e as "Verónicas" também. Ficam os Pobres órfãos, e a vida sem futuro.

Mas nem tudo é assim. Cristo continua a cumprir a Sua Paixão até à Redenção final, nos abandonados e nos sofredores de todas as guerras, tratado com compaixão e com a doação de muitas vidas. Se na Via Crucis os soldados afastavam quem d'Ele se aproximasse, também no nosso tempo se faz assim; mas, a Seu lado, persistem os cireneus.

Natal

Na hospedaria não havia lugar para Eles. Foi num estábulo que encontraram abrigo…

Tinham procurado um abrigo mais condigno com o momento que viviam, mas não o conseguiram obter. Mas, mais importante que o abrigo era o que estava para acontecer: O Natal de um Menino, a quem dariam o nome de Jesus.

Nessa criança se centrou toda a atenção destas personagens: Sua Mãe Maria e Seu pai, assim considerado por todos, José.

Faltava a presença ali, da causa que trouxera este Menino à condição humana: Os Pobres e todos os que trabalham para terem vida; e vieram os pastores com o fruto do seu trabalho.

O Seu Natal é relembrado em cada ano que passa. Quem o pretende receber, esforça-se por criar as melhores condições de que é capaz. Haverá mais digno hóspede que Ele?

O presépio é sempre a Sua habitação.

Padre Júlio