DA NOSSA VIDA

Métodos

Na última edição d'O GAIATO dizia que estamos impedidos de receber rapazes… E falava do nosso desejo de continuarmos a servir os pobres, não por função (funcionários) mas por vocação (servidores).

Teríamos feito algo de mal para estarmos nesta situação? Certamente que não. Então qual a causa? São os nossos métodos. Quem tutela estas matérias tem os seus.

Os nossos, que já foram objecto de teses de alto nível académico, de resultados provados e comprovados na vida de muitas centenas de rapazes das nossas Casas, estão agora confrontados com a necessidade de se adaptarem aos oficiais. Os nossos, que foram beber a sua sabedoria à própria natureza do homem, ao saber das gerações, às ansiedades que impelem ao crescimento humano, imbuídos do carácter transcendente da vida humana e a uma sã racionalidade, aceitam que, na prática da vida, possa haver alguma melhoria ou sensibilização. Mas continuamos a acreditar que os nossos métodos contêm em si as respostas às necessidades e anseios dos rapazes, que os mesmos ao longo de 80 anos comprovam, apesar da natural diferença individual de cada um e da época que viveram. Cada qual, no seu tempo, teve as suas oportunidades, e as orientou à sua maneira.

A vida de participação e responsabilidade na vida da comunidade, não pode ser esvaziada. Cuidar do que é de todos como se fosse seu é o expoente da comunhão de vida. Estes são meios que os fazem crescer como gente feliz, integrada, útil e construtora da família e da sociedade. Impedir que o Rapaz tenha a sua própria casa, a sua família ainda que não a natural, de escolher e preparar a refeição de todos, a porta aberta para entrar e sair, em suma, de ter o bem e o mal à sua frente e escolher livremente, é impedi-lo de assumir a vida em suas próprias mãos, e de correr os riscos que o amadurecem e consolidam. Ao contrário, toda a vida que é meramente assistida, enraíza-se no individualismo e desenvolve o egocentrismo.

O Concílio Vaticano II na sua Constituição pastoral Gaudium et spes, diz-nos, e nós somos Obra da Igreja, que o espírito de pobreza e de caridade é a glória e o testemunho da Igreja de Cristo. Em tudo queremos contribuir para a sua glória. Queremos viver neste espírito que deve dar conteúdo e forma à nossa vida e à relação com os outros. Os métodos que usamos nascem também da partilha e relação próxima com os pobres, partilha de bens e de dores, desejo e ajuda de promoção. É vã a vida que não contempla no seu íntimo as fragilidades da humanidade e nada faz para lhes encontrar o sentido e as procurar debelar.

Certamente que o método a aplicar na educação e preparação para a vida dos jovens carentes de acompanhamento fora da família natural, não pode ser exclusivamente racional. O coração deve ser aproximadamente o centro da vida, tal como o lugar que ele ocupa no corpo humano. Não ficam esquecidos os lugares mais periféricos, a todos ele faz chegar a sua energia. Tudo fazemos para termos um lugar neste organismo social, onde todos devem ser considerados e respeitados.

Padre Júlio