DA NOSSA VIDA

16 de Julho de 1956

Sabemos que nunca acabarão os pobres, que ninguém os poderá extinguir; o que importa fazer, sem desânimos, é amá-los. Foi o que Pai Américo fez.

Nunca no seu pensamento esteve o objectivo de resolver o problema social da existência de pobres. Sempre no seu pensamento e no seu coração a doce vontade de os acolher, de os animar e, principalmente, de lhes revelar o que eles em si mesmos lhe revelavam: a presença de Cristo nas suas vidas. Pai Américo era um espelho no qual se viam os pobres, e eles um espelho no qual via Cristo, descobrindo uma realidade que lhes dava razões para não renegarem, antes afirmarem, a sua vida, corajosamente.

Pai Américo não fez só meia obra: era preciso chegar à conversão dos ricos, fazendo-lhes ver que era seu próprio dever "dar a mão" a todo o necessitado de ajuda e não uma questão meramente opcional, ajudar ou não ajudar segundo o livre critério de cada um.

Se este retinir às consciências urgia no seu tempo, hoje é mais que evidente esta necessidade: o tempo chama a todo o gozo que a vida pode dar, e são muitos os que seguem por este caminho largo. Ajudar aquele que ficou carente de ajuda, a quem nem da família nem de algum lado ela veio, é um dever de que todos se devem sentir responsáveis.

Se sempre houve a chamada "pobreza envergonhada", hoje deslindar o Pobre é mais difícil do que nunca. Onde parecem estar boas ou suficientes condições de vida, está, muitas vezes, a pobreza escondida na aparência do que se vê, em situações de carência mais ou menos duradoiras. Quantas vezes nos damos conta disto mesmo, em visitas solicitadas, confirmando-se o adágio popular de que quem vê caras não vê corações, isto é, quem vê o lugar onde o Pobre vive não vê as dificuldades com que Ele se debate.

Correram já 68 anos desde o 16 de Julho de 1956, em que uma imensa mole humana se despediu do Pai dos Pobres na cidade do Porto e ao longo da estrada que o conduziu à Casa sede da Obra que fundou. Ainda a Igreja o não proclamou Santo e já o povo, nesse dia apoteótico, assim o apelidava. Povo, onde se incluíam pessoas de todas as condições sociais mas, sobretudo os pobres, que naquele sentido momento, veneravam o pai que os acolheu em vida, ajudou e amou. Pela estrada fora, uns de pé, outros de joelhos à sua passagem, em profunda reverência, ligavam o céu e a terra, anunciando que o maior mal da vida é o gelo que se forma no coração das pessoas pela indiferença e pelo egoísmo.

Se não fossem os pobres a quem teríamos para amar? (Pai Américo).

Padre Júlio