DA NOSSA VIDA

Pelo Pobre

Eles são os nossos senhores, os pobres. Feliz reconhecimento teve S. Vicente de Paulo ao explicitar esta verdade, que não permite desvios.

De facto, eles são, no mundo, a carne viva de Jesus Cristo, tornada visível a nossos olhos: «o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes».

Por tal motivo, não nos podemos deixar dominar ou influenciar por outros interesses que não seja este: servir a Cristo nos pobres.

É de grande utilidade este pensamento. É dom de coragem perante o estorvo que o Pobre constitui para o mundo. É dom de paciência quando o Pobre desagrada à nossa sensibilidade. É dom de humildade porque o Pobre nos faz aterrar na nossa própria condição humana.

Pai Américo quis vestir-se e revestir-se de Pobre desde os primeiros passos que deu na procura de Cristo. Também ele sentiu a repulsa inicial em que se constitui a pobreza: arrepiou-se ao ver o Superior Conventual de Vilariño da Ramalhosa de pés nus, calçados numas sandálias; protegeu-se de contaminações nas primeiras visitas às mansardas dos pobres em Coimbra; e haverá mais…

Mas durou pouco esta força da carne que depressa venceu: entregou nas mãos do seu bispo tudo o que possuía; fez voto de pobreza, a que não era obrigado. Finalmente, acabou a sua vida entrando descalço na Casa Paterna.

O Pobre ensina-nos que o nosso verdadeiro interesse não está em nós, nem nos outros, nem no mundo. Ele está em Jesus Cristo, que em tudo isso Se faz presente, para o converter.

É a Ele que procuramos e encontramos, servindo-O onde Ele está. Ele é o Senhor, portanto, os pobres são os nossos senhores.

De que serve conhecer tudo e ganhar tudo se Ele não está? «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?»

Procuremos, ao menos, alcançar o justo equilíbrio entre as coisas do mundo e as coisas de Deus. Ao radical que é Deus, chegaremos por Sua graça.

Padre Júlio