
DA NOSSA VIDA
Mais vida
Gostei de ouvir, há dias, um eminente jornalista que colaborou
directamente no estabelecimento do novo regime político nascido do 25 de Abril
de 1974 e nisso se dispôs a correr riscos importantes na sua vida, quando
lembrava um lema seu: «Máxima liberdade, máxima responsabilidade»
De facto, para bem usufruir de uma é necessário bem corresponder na outra. São dois membros que põem em marcha um corpo que não coxeia nem tende para um dos lados, não se desviando assim da recta trajectória.
Pela intuição e sabedoria de Pai Américo, a nossa Obra com um pouco mais de 30 anos à data do começo desse novo tempo de vida pessoal e social em ambiente de liberdade, já defendia e praticava o mesmo lema: nela se respirava liberdade, em sintonia com toda a natureza, e correspondia-se-lhe responsavelmente com o pulsar do coração; o encontro com a paz e o bem pessoal e comum, que só em ambiente de liberdade pode acontecer, provoca no coração o desejo de cumprir, responsavelmente, porque isso traz consigo a alegria de viver.
Ninguém melhor que Pai Américo para nos fazer compreender o acerto que se obtém na vida em liberdade: «Nós respeitamos absolutamente a liberdade de pensar e de dizer, inata na pessoa. Os rapazes podem dar as suas opiniões. É precisamente por isso que nós temos mais facilidades em conhecer, probabilidades em corrigir, maneiras de orientar». «Deus cria o homem livre e respeita-lhe a liberdade. Chama feliz àquele que pode fazer o mal e não o faz; ao que pode transgredir e não transgride». «A criança do tugúrio é uma pessoa humana, à semelhança de Deus». «Sem liberdade bem entendida não existe verdadeira educação».
Completa-se com esta coisa simples: «Cada rapaz tenha a sua obrigação e seja chamado a contas por ela. Que nunca se ocupe o estranho em trabalhos que possam ser feitos por eles. O brio; a iniciativa; a personalidade — tudo procede daquela fórmula. É a nossa divisa: Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes. O trabalho deles, por mão deles, querido por eles, é, ainda, a extinção lenta e sadia dos defeitos morais que os aflige».
Em conclusão: «O nosso método está precisamente aqui. Porta sempre aberta. Muros baixos. Possibilidade de entrada e saída. Mais possibilidade de saída do que entrada. Amor, brio, interesse, responsabilidade».
Desde essa data, há 50 anos, em que era ainda adolescente, vimos como foi difícil institucionalizar a liberdade e ainda mais difícil instaurar a responsabilidade, vemos perigar a livre iniciativa cada vez mais sujeita a regras que lhe roubam o espírito e lhe acrescentam mais regras. Se socialmente são precisas orientações e obrigações, não podem estas coarctar a criatividade em que o espírito humano é profícuo, que surge onde não se espera e produz resultados inesperados. Como sempre, é desse modo, que «o mundo pula e avança»…
Padre Júlio