
DA NOSSA VIDA
Bem-aventuranças
Sendo o mês de Novembro dedicado aos que já terminaram a sua vida terrena, seria bom que não o reduzíssemos somente a um ou dois dias deste mês mas servisse de mote a uma reflexão mais prolongada no tempo. Reflectir a realidade presente à luz do que já antevemos ser, é caminho para sabermos valorizar a vida actual e colocarmo-nos nela com sabedoria e bom senso.
As Bem-aventuranças proclamadas por Jesus no cimo do monte, chamam por nós, para subirmos a um mais alto estado de vida desprendendo-nos do que é corruptível.
Quem não faz este exercício, com maior ou menor empenho, acaba por se deixar atrair e dominar pelo que o tempo corrompe.
Jesus começa por orientar as Suas palavras para aquilo em que devemos focar a nossa vontade, na possibilidade de transformação da nossa vida. São os caminhos do espírito por onde caminham os pobres em espírito, a quem se abre o caminho para chegar à meta que todo o homem deseja, a vida feliz. Seguir caminhos em sentido oposto, embora visando o mesmo fim, conduzirá a um resultado oposto à felicidade.
Pai Américo escolheu o caminho da pobreza, ser pobre e viver para os pobres. Dos pobres para quem não há lugar, a não ser a rua.
Perante as dificuldades da vida presente, que afectam a todos, Jesus mostra que no meio das tempestades só pela mansidão e pela humildade se sai bem delas. Feliz é quem não recalcitra mas as transforma, cumprindo o mandato de transformar a terra. A terra será um ambiente de paz e mansidão onde terão lugar os mansos.
A mansidão de Pai Américo percebe-se na sua humildade: «sem humildade nada». Nenhuma imperfeição se transformará, nem nenhuma altivez se quebrará sem o conhecimento experimental da humildade. Ver a humildade em acção converte e, consequentemente, provoca a transformação.
O choro é sinal de desagrado e de sofrimento perante a realidade. No pranto só se justifica o consolo se houver vida. Jesus promete a Bem-aventurança do consolo, por inerência confirma a vida. Raquel não quis ser consolada porque os seus filhos já não existiam. Só consentiria ser consolada se os tivesse vivos.
Perante o abandono dos pobres e o desprezo a que estavam votados, sem o interesse de quem os poderia consolar, Pai Américo manda chorar, «chorar os nossos pecados». Chorar amolece os corações de pedra ou os torna ainda mais duros se obstinados pelo egoísmo; quebra barreiras e os diques da soberba.
Chorar pelos últimos de todos, que serão os primeiros: "A Obra da Rua é o amparo do garoto abandonado. Prefere os mais repelentes, os mais viciados". "A Obra nasceu com este espírito e com ele deve continuar, para ser, em todos os tempos, uma palavra nova".
Padre Júlio