
DA NOSSA VIDA
Educar
Ser educado é uma necessidade de que carece o
ser humano, especialmente nas idades pré-adultas. Entrado nestas, é uma
auto-tarefa que compete essencialmente ao próprio indivíduo.
Educar exige que alguém se disponha a pôr-se no papel de educador para ajudar o outro a assimilar determinados valores e conhecimentos. Se este não estiver receptivo, não é possível o primeiro cumprir satisfatoriamente a ajuda a que se dispunha. Nesta situação, quando o educador está no exercício da sua profissão ou cumprindo uma missão a que se dispôs, terá de multiplicar o seu esforço e ver reduzido o fruto do mesmo.
Hoje, vive-se largamente a recusa ou indiferença em educar ou ser educado. Não é só o ser objecto de educação, mas também a disposição para educar, tendo em vista aquele que carece desta ajuda para o seu crescimento pessoal e a sua inserção no meio social.
Em tudo isto há uma componente fundamental que está na raiz desta maneira actual de encarar a questão, que não é só dos nossos dias mas de sempre: a dor que sofre quem educa e quem é educado. Como não se valoriza a dor como componente necessária e fundamental para os feitos humanos, despreza-se tudo o que a provoque e procura-se anulá-la ou fugir dela. Está generalizada esta reacção, no encarar de tudo o que provoque dor, moral e psicológica ou física. Já o mesmo não se verifica quando a dor faz parte de um processo que trará grande compensação aos anseios de quem a sofre, normalmente dor física, resultante do esforço de superação.
A dor está na verdade da natureza da vida humana, por muito que muitos se lhe oponham. Até ao nível do direito, quanto se faz para eliminar todo o tipo de sofrimento, através de leis ou de processos para evitar responsabilização?
Educar, com mais ou menos dificuldades envolvidas, produzirá sempre frutos. Embora os frutos resultantes nem sempre apareçam logo, parecendo infrutíferos os esforços dedicados, aparecerão mais tarde, facilmente visíveis ou não.
Da opção por não educar, também se produzem frutos, normalmente em situações dramáticas, com grande carga de sofrimento.
Educar no tempo oportuno é uma obrigação de quem tem naturalmente essa responsabilidade, e um direito de quem tem essa carência, ainda que haja obstáculos que se entreponham, os quais não devem ser aumentados artificialmente. Por este caminho se chega à verdade da vida e se cumpre o veredito de Pai Américo, na sua tarefa de paternalmente salvar os abandonados da rua: «não há rapazes maus».
Padre Júlio