
DA NOSSA VIDA
Paz
O mundo anda turbulento. Não é só a guerra a leste da Europa, o ponto mais forte dessa turbulência, mas em muitos outros locais com manifestações de insatisfação.
Muitíssimos comentadores manifestam as suas opiniões, estudos, tácticas e muitas palavras. A turbulência continua, e parecem não acertar com o remédio que pacifique a vida do mundo.
Este é o ambiente que sempre rodeou os que vivem entre «bárbaros e salteadores», «entre os inimigos da paz», o mesmo que experimentava o Salmista, e que o levava a concluir: «Quando lhes falo de paz, logo eles pensam em guerra». Hoje com outras denominações, mas com os mesmos propósitos: apoderar-se, dominar, enriquecer.
Muitas vezes os bombeiros atacam o fogo com outro fogo. Quando a turbulência é fogo, para o extinguir nada melhor que outro fogo. Aquele fogo que não destrói mas purifica e tem como fruto a paz: «Eu vim trazer o fogo à terra. E que quero Eu senão que ele se acenda?»
Também Pai Américo se dava conta do turbilhão que passava a seu lado. Ele era o «incendiário» que despertava as vidas descentradas do essencial, do que pode trazer a paz e a justiça para todos, o fogo que pacifica o mundo.
Sem confiança não pode haver paz. Naquela, assentava Pai Américo todo o relacionamento feliz, ainda que nem sempre fácil: «Antes quero a derrota da confiança do que o triunfo da vigilância». Como estamos neste capítulo na vida social?
A realidade diz-nos que só por documentos se pode atestar uma prova de confiança. Falta o fogo que recupere a confiança e traga a paz.
Nós não queremos perder esta expansão do coração que é a confiança, no contacto com os que nos procuram. Quantas vezes os nossos Pobres, quando vêm expor-nos a sua situação, ao mesmo tempo que o vão fazendo verbalmente vão procurando seleccionar os papéis que trazem e que nos querem mostrar como prova do que dizem. Mas não lhes damos tempo para isso e mandamos guardar aquilo que não nos faz falta. Quando não os conhecemos ainda, pedimos, isso sim, um testemunho do seu pároco.
A confiança, na vida social, tem-se perdido, e a paz sem ela não se recupera. Os erros de alguns têm levado à generalização da desconfiança em relação a todos.
A tendência avassaladora para burocratizar a vida não é para nós uma luva fácil de calçar. Vamos até onde ela nos seja útil, mas parece-nos que o papel de 25 linhas voltou em força… e que cada vez sabemos menos quem é o nosso interlocutor.
Padre Júlio