DA NOSSA VIDA

Obra da Rua

Obra de Deus ou Obra humana? Uns dizem que é Obra de Deus, outros que é a Obra do Padre Américo, Obra de um homem, portanto.

Sempre temos que colocar esta questão; pôs-se no tempo de Pai Américo e há que questionar hoje também. Porquê?! Para que se mantenha na linha de fidelidade a si mesma, produzindo os seus frutos, e não se perca na inutilidade das coisas vãs.

Num momento em que falava em público, Pai Américo referiu-se-lhe: «É preciso que se compreendam estas verdades eternas para não atribuir as obras a pessoas que não são os autores. Nós somos apenas os executores. É preciso pôr Deus no seu lugar.»

Todos aqueles que se lhe dedicam são, portanto, executores; e é preciso que sejam bons executores. Para que isso aconteça, terão de se manter, constantemente, atentos ao autor para lhe serem fiéis e não trabalharem em vão. Se caírem na rotina por força do tempo que passa e, por via disso, se colocarem no lugar do autor, trabalharão para o tempo caduco e não para o que fica para a eternidade.

A regra da Obra da Rua é o Evangelho. Ele é a carta magna que nunca poderá ser substituída por outras, ainda que estas se apresentem como mais facilitadoras da vida, na concordância com as maiorias, e por uma, aparente, mais avançada modernidade. Corre, por sua própria essência, o risco de cair em minoria, mas essa pode ser a norma que comprova a sua fidelidade a ser fermento e sal no meio da massa. Mau seria perder o poder de fermentar e de salgar; somente serviria para ser lançada fora e ser calcada pelos homens.

O dinheiro foi sempre, ao longo da história, o principal factor de crescimento das obras humanas. Para o alcançar faz-se tudo quanto se pode, legitima ou ilegitimamente. Em todo o caso, estas obras têm em si mesmas um elemento de auto-decadência, que só vai sendo vencido se o factor que lhes deu origem as mantenham de pé.

Obras capazes de vencer as consequências do tempo, só as que têm o dedo Criador de Deus. Ele está na origem e ajuda a realizar, como disse no mesmo momento Pai Américo: «É Deus que escolhe a hora. Que escolhe o lugar. Que dá o toque. Que ajuda a realizar e termina a realização». Portanto, não há que temer que Se ausente. Ele está escondido, e sempre dá a Sua ajuda sem Se manifestar. Cumpre o que nos manda cumprir: que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita.

E, também, não há que temer por se andar em minoria. Pai Américo experimentou-o, e isso não o impediu de conservar o rumo: «Eu vejo as coisas numa luz, não sei se é dos óculos, ou se que é. Eu vejo noutra luz. Eu sei, eu sei que ando às avessas de toda a gente, mas tem dado certo até hoje, e parece-me que vai assim até ao fim».

Mas, «ai de nós se não dessemos os olhos da cara, e até a camisa se for preciso, e tudo o mais. Ai de nós! Porque também nada tínhamos. Pois claro! Nada tínhamos.» Como é diferente este ter! É preciso dar tudo para o ter, pondo em Deus toda a confiança. Este é o selo das Obras de Deus que aparecem como Obras humanas com sabor divino.

Padre Júlio