
DA NOSSA VIDA
Liberdade
A pedagogia de Pai Américo imprimiu carácter na nossa Obra. A sua vivência, fielmente garantida pela presença de Pai Américo no quotidiano, tornou a Obra da Rua única e irrepetível, como foi único e irrepetível este ser humano, obra de Deus como todos os outros seres humanos.
Pai Américo não foi um teórico que expôs uma doutrina para outros cumprirem, mas alguém que fez e, fazendo, foi construindo um Pensamento que se transfundiu no coração de outros. O seu modo de viver preenche a vida totalmente, com a consciência de que nem tudo o que se obtém é perfeito, pois a imperfeição está presente nas obras humanas mesmo que tenham «sabor divino». Em tudo, Deus respeita a liberdade com que dotou o homem.
Para melhor compreender o seu Pensamento é necessário mergulhar na Obra, realizada e escrita, com a inteligência e o coração, para perceber o porquê das coisas serem de uma forma e não de outra. Só assim se faz a transfusão do espírito que anima a Obra, no desejo de lhe dar continuidade. E há razões para tal, pela riqueza dos valores que são próprios dela.
Como homem do Evangelho que foi, infundindo-O diariamente em si, através da leitura e meditação, no encontro com Ele nos pobres e nas obras que lhe iam saindo das mãos, que não sentia suas, a pedagogia que foi construindo tinha de ter obrigatoriamente o espírito do Evangelho.
Uma característica que a marcava é a liberdade, coada pela consciência da responsabilidade. Liberdade tipificada pela «porta aberta», porta sempre aberta para quem quisesse entrar ou sair ou permanecer. É a liberdade de se autodeterminar. Mas hoje todas as portas se fecham, pelo perigo que espreita e pela insegurança. No entanto, o perigo manifesta-se e faz das suas com as portas fechadas. Mais, é dentro de portas fechadas que se fazem os maiores males.
Outra característica que a imbuía é apresentar-se como proposta. Esse é o espírito do Evangelho, que nunca se impõe a ninguém mas se propõe: «se queres ser…»; «ide mostrar-vos…»; «esforçai-vos por entrar…»; «vai e faz…»; «segue-Me…».
Na nossa contemporaneidade, não estarão quase perdidos estes dons tão preciosos na vida dos homens, em contraposição com a prática de uma liberdade irresponsável e de uma autodeterminação individualista? Para alcançar o bem pessoal não se pode colidir com o bem da comunidade. A responsabilidade entra aqui como charneira entre esses dois dons, tão valiosos para uma vida mais humana.
Padre Júlio