
DA NOSSA VIDA
De novo a Mãe
Encontrei-me de novo com a segunda mãe que referi n'O GAIATO precedente. Pensei que já tivesse a vida bem orientada e tranquila. Mas, de facto, não a tem assim.
Continua sem saber o que fazer à vida. Não encontra quem a possa ajudar.
O seu horário de trabalho é muito diversificado. Tanto sai ao início da tarde como ao terminar o dia. Os dias do fim-de-semana também poderão ser dias de trabalho para ela. Nem amas nem jardins-de-infância são solução onde possa deixar e buscar o seu filho, no princípio ou no fim do trabalho. Todos têm um horário inamovível.
- Fique com o meu filho, padre, diz-me desalentada e triste.
- Bem gostaria de ter o seu menino connosco, todos gostaríamos de a ajudar, mas não temos quem cuide dele. Precisa de uma senhora, de uma mãe que cuide dele. Ainda é muito pequenino!
De facto, far-lhe-ia muito bem estar connosco uns tempos. Tem carências que poderíamos resolver. A mãe visitá-lo-ia com frequência. Mas, como temos a referida limitação, não podemos fazer o que gostaríamos, e que traria a paz àquela mãe e um bom desenvolvimento ao seu filho.
Nunca tivemos mães em abundância nas nossas Casas, sempre os mínimos, mas mulheres dedicadas de alma e coração aos nossos rapazes, acolhidos como filhos. A mãe natural deles não disse presente, mas estas senhoras entregaram-se como suas mães adoptivas.
Não tem mal nenhum ter um pai adoptivo ou uma mãe adoptiva. Até Deus se serviu deste meio para dar o Seu Filho à humanidade.
A hipótese de adopção está completamente posta de lado para esta situação. A adopção justifica-se quando a criança está em situação de abandono assumido pelos que lhe deram a vida ou estes são incapazes, reconhecidamente, de cumprirem satisfatoriamente a missão que lhes cabe. Este menino tem uma mãe que o transporta no seu coração em cada segundo do dia; é impotente mas não incapaz de criar o seu filho. Precisa de ajuda, não de ser posta fora da vida do filho.
A vivência da caridade cristã foi durante vários séculos a protecção de crianças abandonadas. Com toda a simplicidade estas crianças eram acolhidas numa família, num seio familiar. Quando surgiu o acolhimento institucional, cada Casa era um caso, embora dominasse a despersonalização dos acolhidos.
Como a resposta é a família, Pai Américo quis dar uma família aos rapazes que a não tinham. Obrigado a dar forma institucional à sua Obra para poder acolher os seus rapazes pobres, fê-lo como se não o fizesse. Confrontado com a necessidade de ter Estatutos na Obra, admitiu forçosamente essa necessidade sem contudo os conhecer porque nunca os leu, como disse. É que a caridade cristã não se pode enformar pela letra, porque está sempre para além do que se possa dizer ou fazer.
Preocupa-me esta mãe e este filho. Não temos que nos preocupar, especialmente, com aqueles que não conhecemos, mas sim com aqueles com quem nos cruzamos na vida.
Padre Júlio