DA NOSSA VIDA

MÃE

Encontrava-se na estação à espera. A sua situação de vida não lhe dava tranquilidade, antes pelo contrário... chorava-a, o mais contida que podia. Abeira-se dela uma mulher e pergunta-lhe qual a sua aflição. Era o seu bebé. Vivendo sozinha com ele não conseguia trabalhar. Ou cuidava do filho ou trabalhava.

A samaritana propôs-lhe então que nos telefonasse porque encontraria ajuda.

Já em Lisboa, conhecemos a mãe e o filho, no andar onde foram acolhidos. O bebé gatinhava pela sala e a mãe insistia no que haveria de fazer e lhe parecia melhor.

Recebê-lo seria motivo de muita alegria para a nossa comunidade. A mãe, embora sofredora com a separação do fruto do seu seio, encontraria alívio para poder angariar meios para viver. Nós, perante aquele quadro, nada nele mais víamos que a causa de alguma alegria que ali se respirava - o bebé.

Propusemos então à mãe que encontrasse um jardim de infância onde pudesse entregar o seu filho enquanto cumpria as suas horas de trabalho. Com a nossa comparticipação seriam pagas as despesas. Assim se fez.

Hoje, já com dez anos de idade, a mãe ligou-me, e pude então ouvir a voz daquele que foi bebé como todos os humanos a quem deixaram nascer, crescer e viver.

Quantas situações semelhantes! Quantos filhos que não o chegaram a ser porque não tiveram mãe! Mãe capaz de sofrer quando a vida isso pede, mas também mãe que confia e espera e, por isso, sempre alcança.

Outra mãe, em situação semelhante, nos dias que correm. Muito apegada ao seu filhinho com idade a rondar os 3 anos. Já nos veio conhecer.

O trabalho é muito instável, trabalha alguns meses mas depois termina o contrato. Mais um tempo de paragem e novo contrato.

Para garantir habitação teve de mudar o local da residência, partilhando um andar com alguém de família. A criança ficava numa creche quando ia trabalhar, mas agora essa creche fica muito longe da nova residência, o que a obriga a levantar-se muito cedo e a expor o filho às intempéries.

Chamaram-na de novo para um trabalho, mas ficou aflita por não encontrar quem cuide do filho nessas horas. As lágrimas não resolvem o problema, mas ajudam a resolver.

Incentivei-a a procurar, neste sítio e naquele. Por fim, encontrou.

Vamos partilhar as despesas do jardim de infância. Irá trabalhar descansada e acompanhar o filho a crescer. Daqui a uns anos ouvirei a sua voz.

Quantas situações semelhantes, talvez algumas resultando em abandono e deformação humana e marginalidade! A estas gostaríamos de abrir as portas, como durante décadas aconteceu. Mas, tal como aqueles tiveram e têm mãe, também nós precisamos de a ter. O convite fica feito.

No mundo actual, em que domina a técnica, que de tão apreciada e adorada se tornou um deus, e também os técnicos que opinam em tudo o que é vida, nós acreditamos, como Pai Américo resumiu, que «técnico é aquele que ama».

Padre Júlio