
DA NOSSA VIDA
Serviço
As nossas tarefas agrícolas, em que os rapazes participam, são hoje muito reduzidas. A vida escolar sobrepõe-se a tudo o resto, reduzindo a pouco o tempo disponível para outras aprendizagens, que não deixariam de ser também muito importantes para a formação deles, transmitindo-lhes aquilo que a Escola não transmite.
Vem isto a propósito da nossa vindima. Para além deste trabalho no campo, só têm a possibilidade de colaborar na apanha da batata, quando é o tempo de o fazer. Desta vez foram poucos rapazes a vindimar, dos poucos que, neste momento, compõem a nossa Comunidade.
Porque a Escola já começou as suas actividades, tudo lhe fica sujeito. Como o ambiente que envolve as escolas é geralmente um ambiente citadino, é este que determina a programação escolar. Longe vão os tempos em que era comum os filhos participarem na economia doméstica, ajudando nos trabalhos a que os pais metiam ombros. Se não se pode nem deve inverter a importância das coisas, também não se deve desprezar o que contribui para a unidade da família, que se solidifica no serviço mútuo entre os seus membros.
As experiências que se desenvolvem na vida, originam conhecimentos, sentimentos e abertura de espírito e de inteligência, e só enriquecem a quem nelas participa. As experiências não se transmitem, como gostava de dizer Pai Américo, e a participação de todos na vida da Casa seria muito importante. Quando os mais velhos vêm visitar-nos, lembram os tempos que passaram na sua juventude entre nós, não só as malandrices mas tudo o que fizeram de bom proveito, mostrando como os favoreceu a participação na vida da Casa, a ponto de dizerem que os anos aqui passados foram os mais felizes das suas vidas. Hoje a vida é muito passiva ou multiplica-se em actividades, maioritariamente desportivas, sem distinção de sexo. Competição, exercício físico... o que fica de perpétuo para o verdadeiro curriculum vitae da vida de cada um?
Voltando à nossa vindima, sabemos como, a alguns rapazes, custa um bocadinho pôr a tarefa em marcha, embora com outros não haja vestígios desta inércia. Tivemos a demonstração das duas formas de encarar a tarefa, e foi o mais novo, em idade, que deu melhor conta do recado, embora aconselhado a não pegar na tesoura para evitar ferimentos. Aliás, em todas as tarefas, é normal existir esta dupla forma de reagir, em que os menos predispostos à acção respondem sempre da mesma forma, independentemente do que há a fazer. Mais um motivo para os envolver nas tarefas que são serviços à Comunidade, de que fazem parte e beneficiam.
A participação de todos os membros da Comunidade nas tarefas que é necessário realizar na vida da Casa, é a melhor forma de integrar, particularmente os que iniciam uma nova vida entre nós, e um meio de conservar a unidade entre todos. Este é o estado de alma que todos apreciam, com frutos de paz e tranquilidade, nascidos de um sentido de serviço que enobrece.
Padre Júlio