
DA NOSSA VIDA
Fonte de vida
Em 5 de Março de 1944, há 78 anos portanto, saía à Rua O Gaiato. Destemido e confiante ganhava existência para unir vontades numa mesma vontade: salvar os que andavam perdidos.
A entrada no mundo da comunicação escrita, de Pai Américo, não foi para si uma experiência nova, visto que na década anterior vira já os montes a caminhar à sua frente com o seu trazer para as páginas do jornal Correio de Coimbra, na rubrica Sopa dos Pobres mais tarde Obra da Rua, as vidas sofridas dos Pobres que visitava e com quem se cruzava por terras coimbrãs, para além da publicação do livro Pão dos Pobres, editado com o mesmo fim. Recuando mais no tempo, mostra a importância que atribui à comunicação escrita como factor construtor de unidade e partilha de vida nos seus textos publicados no Lume Novo, pequena revista da comunidade do Seminário Maior de Coimbra, a que pertencia.
Nesse 5 de Março de 1944 não esperou por adequadas condições para lançar O Gaiato. Essas só seriam alcançadas depois de passadas 144 quinzenas, correspondentes a outras tantas edições, durante as quais foi composto e impresso na Tipografia da Casa Nun'Alvares, no Porto. Então é que haveria de ser inteiramente seu, nascido e criado pelos seus, preparado e expedido pelas mãos destes para as dos Leitores, como se mantém.
No momento em que viu realizada a sua ideia exclama: «Cheguei ao que desejava. As ideias são lâminas cortantes e de força quase indomável. Todos trabalhamos para chegar a este ponto e todos gozamos o panorama da mesma maneira». «Aonde antes se lia um nome estranho, hoje, nesse mesmo lugar, lê-se composto e impresso na Tipografia da Casa do Gaiato em Paço de Sousa. É o número 145 do jornal que dá ao mundo a novidade». O jornal feito pelos rapazes, é fruto do trabalho da Tipografia acabada de construir, como meio para os promover preparando o futuro: «Que todos se alegrem que por ela, pelo trabalho dela, havemos de salvar e garantir profissão aos que de outra sorte seriam um peso morto no meio de nós».
A ideia do jornal nasceu inserida no processo que é a razão de ser da Obra da Rua: Salvar os garotos dos caminhos pela pedagogia que conduz toda a Obra: Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes. O jornal traz consigo todo um mundo de aprendizagem e trabalho: «O trabalho a ensinar. O trabalho a dar amor e valor à vida. O trabalho a prender amorosamente os que andavam soltos pelos caminhos em notório prejuízo da Nação. Eis aqui a verdadeira riqueza da nossa tipografia... Os pequeninos, ontem dos caminhos, e hoje presos às caixas de composição. É vê-los em fileira a tirar letras e encher o componedor. Estão atentos, interessados, felizes. Já são muitos. Lembro o Jacinto, o Corre, o Luís, o Valete, o Fozcôa; mas eles hão-de ser mais.»
Hoje, o trabalho tipográfico em grandes parcelas do mundo evoluiu e em grande medida se automatizou. Progresso e mudança em nada retiram brilho às iniciativas por amor dos Pobres, em cada tempo. Tanto ainda em que o homem tem de crescer. Os frutos do trabalho e a posse dos seus meios serão sempre fonte de vida e factores principais no crescimento humano e material.
Padre Júlio