
DA NOSSA VIDA
Educação
Perante a tarefa de educar, abre-se a minha compreensão às fragilidades e dores que acompanham aqueles que a têm como dominante na sua vida, sem esquecer os que são objecto dela. A motivação dos que a ela se dedicam é variada, e as razões fundamentais em que se apoiam são também diversas.
Desde uma educação laboratorial, baseada em estudos das ciências humanas, até uma educação intuitiva, tal como a que Pai Américo desenvolveu, à semelhança da mãe que não foi ensinada a dar o peito ao filho, outras as intermediarão.
Muito importante, será considerar que a educação não tem só um sentido; no processo educativo há também a considerar o reflexo das respostas daquele que, supostamente, é aquele de quem o educador cuida. Mais do que aquilo que esse verbaliza, tantas vezes respostas repletas de emoções, importa lermos o que as suas reacções nos fazem sentir. Sim, enquanto a interpelação educativa não é assimilada, há um tempo necessário para a integrar, pois trata-se de uma novidade para quem a recebe; o acontecimento educativo não terminou na interpelação. Se aquele que recebe o dom sofre o seu efeito, aquele que o transmite fica também em estado de inquietação que faz doer. São as dores do que é gerado e as dores da maternidade, como a elas se refere em certa passagem S. Paulo. E tanto maiores quanto mais longo e mais difícil for o parto.
Porque razão, como diz o senso comum, sofre mais o que educa do que aquele que é educado? E, indo mais longe, castigar do que ser castigado? Não é de narrar a ninguém o desassossego e dor em que fica quem educa, quando a sua intervenção não é bem acolhida pela outra parte! Não será também porque, para além de não ser acolhido, vê as coisas para lá do desentendimento e as suas possíveis consequências?
Neste estado de alma, para nós, há um apoio que prevalece: Aquele que nos atribuiu tal tarefa e em nós gerou a fé para o realizarmos, o que sozinhos não seríamos capazes de fazer. Se Ele próprio sofreu pela nossa desobediência e ignorância inicial, como ninguém jamais sofreu nem sofrerá, porque não haveríamos nós de sofrer alguma coisa por aqueles que nos é dado cuidar?
Faltando esta luz e força faltaria tudo. Nada poderia subsistir.
Por isso não é de espantar que, nos dias de hoje, se torne mais atractivo não ter que exercer na vida o papel de educador, e ter outros companheiros de vida que não o exijam por sua própria natureza. Em vez de filhos, animais, como se vem generalizando de há uns anos a esta parte.
Mas, quando a divergência do processo educativo é ultrapassada, cresce a vida dos envolvidos. É um tesouro que não se vê nem se perde, mas que terá plena visibilidade naquele lugar onde nunca a traça nem a ferrugem o poderão corroer.
Padre Júlio