DA NOSSA VIDA

Adopção

O tema da adopção de crianças deve ser tão antigo quanto a existência das mesmas, ou seja, de sempre. Sem pretensiosismos sociológicos, é sabido como em culturas de bom substrato humano, as crianças que, por qualquer razão, perdiam seus pais, tinham logo lugar na própria família denominada alargada ou noutra dotada de boa vontade. Factores como as guerras fratricidas e as culturas descartadoras, bem como a pobreza endémica, fizeram desaparecer do espírito dos seres humanos o sentido da responsabilidade perante as necessidades das crianças órfãs ou noutra situação de abandono.

Nos nossos dias, a adopção apareceu como o ovo de Colombo que iria resolver a situação de todas as crianças acolhidas nas mal-amadas instituições chamadas oficialmente de Lares de Infância e Juventude, colocando-as numa família, aceite oficialmente como tal. Neste ponto, não posso esquecer aquele menino que um dia a mãe me pediu para o receber na nossa Casa, e que passados 3 ou 4 anos, apesar de muito feliz connosco, foi colocado numa família constituída por uma única senhora.

Numa revisão dos resultados da adopção dos últimos anos, verifica-se que há uma tendência decrescente no número de crianças que entraram nesta via de substituição da sua família natural por uma adoptiva. E não é um número assim tão alto, basta dizer que é o mesmo do número de rapazes que esta Casa do Gaiato de Paço de Sousa tinha nos anos oitenta do século passado, que aqui encontraram a sua família e daqui saíram, a grande maioria, para constituir a sua família.

Com imensos custos, hoje em dia, se orienta um baixo número de crianças para a adopção, sabendo que nem todos os casos redundam em êxito. Infelizmente, alguns deles terminam em ruptura, senão mesmo em tragédia, como nos é dado conhecer.

É sabido também que são as crianças de tenra idade, em grande parte, as procuradas por auto-propostos adoptantes. Em parte é compreensível que assim seja, o que a nossa própria experiência corrobora, e que nos diz que a partir do início da adolescência, falamos dos 12-13 anos, os rapazes que acolhemos começam a ter maiores dificuldades de integração na nossa família. Não que não haja casos de sucesso a partir destas idades, tudo depende da experiência de vida passada que fizeram. Mas como há cada vez menos crianças em idade pueril a carecer de serem acolhidas fora da sua família natural (não esquecer que se é criança hoje até aos 18 anos de idade), sobram e ficam por aproveitar os auto-propostos adoptantes. Mas isto não é problema para quem trata destes assuntos, pelo contrário, é um problema que ficou resolvido com a oficialização do aborto e da mentalidade individualista que se foi entranhando no espírito dos nossos contemporâneos. Depois, e por muitas razões, das quais sobressai a abundância de leis e a carência de amor ao próximo, fica hoje em dia mais confortável adoptar um animal do que um ser humano...

Muito há a dizer sobre esta matéria, e muitas serão as opiniões do remédio a dar a quem, nesta situação, precisa de ajuda; na parte que nos toca, gostaríamos que todos pudessem viver a vida que lhes foi dada e depois tirada, e faltando a família natural, não falte quem a remedeie. Como Pai Américo dizia, «eu estou a remediar»! A vida humana, queiramos ou não, tem sempre necessidade de remédios, físicos e espirituais.

Padre Júlio