DA NOSSA VIDA

Dos nossos Pobres

Todos os meses, às vezes mais que uma vez, vamos visitar a D. Elisa, uma mulher pobre de tudo. Os filhos têm a sua casa, mas a dela é a mais pobre de todas. Foi graças a um deles que a obteve. Porque o terreno onde foi construída ainda não estava pago na totalidade pelo filho, ligou-nos há dias aflita a pedir ajuda para evitar perdê-lo. Ele anda no estrangeiro a trabalhar nas obras, o que não significa ter bons rendimentos. Quantas vezes acontece, em situações semelhantes, não receberem o salário pelo trabalho.

A doença domina, pelo que a lista de medicamentos é grande. Vamos buscar as receitas e, logo que aviadas, levamos os remédios e alguma mercearia. Dantes era ela que vinha cá buscar tudo, mas o avanço da idade cria impedimentos.

A D. Lúcia vive no seu andar de habitação social, com renda de muito baixo custo. Enquanto esteve à espera de que lhe fosse atribuída a sua pensão, foi contando sempre connosco. Com dificuldade crescente de sair à rua, passamos a ir a sua casa. Doutras vezes era pelo telefone que nos dava os dados para pagamento da luz e água, muitas vezes com datas expiradas porque ia aguentando até não poder mais.

Finalmente foi-lhe dada a pensão, e logo nos disse que já não iria precisar mais da nossa ajuda. No entanto, há dias ligou-nos porque estava cheia de dores para se movimentar, e a fisioterapia só a poderia ter no próximo ano. Como só um particular poderia atendê-la, adiantamos o necessário para que com algumas sessões lhe aliviassem as suas dores.

A Sandra é outra mulher a quem a doença põe grandes limitações à sua vida. Alguém lhe disse, num consultório, para nos procurar, que iria encontrar ajuda. Veio com todos os papéis que atestam dos seus problemas, mas disse-lhe para os guardar. Contou-me as suas dificuldades em trabalhar para ganhar o sustento da vida. As intervenções no hospital não a curam em definitivo, e não facilitam nas despesas daquilo com que se pode alimentar.

Fui visitar o andar onde vive, acolhida por uma senhora a quem chama de mãe, para o qual contribui com algum dinheiro para a renda proveniente do subsídio estatal. De vez em quando, estando mais aflita, telefona e pede apoio na renda ou farmácia, outras vezes para mercearia. Com a nossa intuição, vamos correspondendo dentro do que nos parece razoável.

Destas e de tantas outras mulheres levando a cruz das suas vidas, quero ainda falar de uma jovem mãe de dois filhos, que quando era rapariga adolescente já nos visitava na companhia de sua mãe que vinha pedir ajuda. Muitas vezes lhe fui falando da necessidade de ter um trabalho porque a fase de estudar já tinha passado. O tempo foi passando e nem uma coisa nem outra. Entretanto teve o seu primeiro filho que logo lhe foi retirado. Depois teve uma menina, e acabou como muitas outras mães, por ter de assumir todos os custos da sua vida e da filha, fazendo alguns trabalhos e recebendo subsídios.

No início de cada ano lectivo vem pedir-nos material escolar para a filha. É um sinal de esperança.

Padre Júlio