DA NOSSA VIDA

Imperfeição

Tenho andado um pouco mais atento à nossa «bicharada», acompanhando quem deles cuida. As coisas mais insignificantes vão-me assim captando a atenção, fazendo-me por vezes reflectir e tirando ilações.

Desta vez foi mais uma ninhada de pintainhos que nasceu, dos quais um com deficiência motora. Embora com robustez idêntica aos outros, bem se esforçava por caminhar mas não tinha condições para o conseguir.

Estavam todos ali mas foi aquele que me prendeu a atenção. Tive pena do pinto mas nada lhe podia fazer.

É comum dizer-se que a vida é um mistério. E maior é o mistério quando a vida se nos apresenta marcada pela imperfeição.

Quando uma nova vida desponta, se o novo ser é, naquilo que é possível ver-se, perfeito, todos ficam satisfeitos e ninguém se questiona sobre a vida que despontou. Mas, se o novo ser é portador de alguma imperfeição ou deficiência, quem o observa logo se questiona e é assaltado por sentimentos de tristeza. Este é o impacto inicial e geral.

Porém, se se trata de um ser humano, e quem o contempla é quem o gerou, a reacção perante esta situação poderá ser completamente diferente. Será sempre diferente se existir um olhar e um acolhimento amoroso para com o novo ser. Quantas vezes, depois, essa experiência amorosa se torna absorvente, a ponto de ser maior a união quando o filho nasceu com alguma imperfeição do que com outro nascido sem problemas!

Esse amor não é passivo, nem se compraz com a imperfeição. Por isso, logo começam os trabalhos para a procurar debelar, sem olhar a meios e a dificuldades para melhorar a situação. E à medida que vai melhorando a alegria vai crescendo.

Este modo de agir não se aprende, é obra do amor. É uma resposta acolhedora das imperfeições humanas e um sinal de esperança de que serão vencidas. Não foi em vão que Jesus trabalhou nesse sentido e confirmou que «haverá mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento». Ele falava das nossas imperfeições e convidava a deixá-las. Foram estes, os marcados por imperfeições, que motivaram a Sua vinda: «Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores».

Toda a obra que acolhe os imperfeitos e deles cuida é obra de amor. Podemos por isso vê-la como obra de Deus.

Padre Júlio