
DA NOSSA VIDA
Vida
Os homens cansaram-se de ver milagres. O maior deles é o milagre da vida. Foi-lhes dado poder para colaborar com o surgimento de vida na terra, mas ultimamente têm preferido optar e cuidar da sua própria vida e das obras de suas mãos.
Um dos nossos, criado num ambiente rural até ao início da adolescência, nunca esqueceu as suas raízes e vem procurando recuperar essas vivências. Foi-me pressionando para irmos adquirindo alguns animais com que estava familiarizado: cabras, ovelhas, galinhas, patos, porcos, coelhos, e por aqui ficamos embora com vontade de andar um pouco para trás: é que alguns deles, com o seu determinismo em comer tudo o que de verde lhes aparece pela frente, acabam por fazer uma razia nas plantas que não estão ali propriamente para lhes servirem de pasto. E então a gente acaba por se zangar com alguns deles apesar de os acharmos simpáticos.
A última aquisição que fizemos foi uma chocadeira de pintos. Inicialmente não estava muito pelos ajustes em fazê-lo visto que, muitas vezes, são experiências que não têm continuidade: usa-se uma vez ou duas, e depois fica esquecida num canto. O que é certo é que a chocadeira veio, e já tirou duas séries de pintos dos ovos chocados das nossas galinhas poedeiras, e já está na terceira série. Eu, como não estava habituado a presenciar estes milagres da natureza, tenho-me consolado a ver os pintos a saírem da casca, a crescerem aquecidos pela lâmpada de infra-vermelhos e a juntarem-se, pouco tempo depois, aos outros mais crescidos que tiveram na origem da sua vida a ajuda da mesma chocadeira.
Posto tudo isto no plano da vida humana, faz-nos pensar como era importante que os detractores da vida humana deviam contemplar estes acontecimentos tão singelos e deixarem-se tocar por eles. Andam continuamente a olhar para o seu umbigo, pelo que ficam incapazes de descobrir a alegria que é a vida. E, depois, tornarem-se capazes de se alegrarem com a beleza de uma criança, tal qual eles próprios já foram, passando então a repugnar tudo o que é contrário à vida.
A natureza é um livro aberto onde o ser humano, único ser criado dotado de consciência, pode ler a escrita do Criador e escrever nela, com a sua inteligência, os seus sentimentos e os seus anseios, obras de beleza que o Criador lhe suscita. Este é o caminho para que o homem se reconcilie consigo mesmo, com a natureza e com Deus seu Criador, tornando-se assim participante do milagre permanente que é a vida.
Padre Júlio