DA NOSSA VIDA

Partilha

Estamos a preparar um contentor para cada uma das nossas Casas do Gaiato em Angola. Apesar de ser um assunto já decidido entre nós, surpreendeu-nos que espontaneamente e sem ter conhecimento da nossa intenção, um amigo tomasse a iniciativa de sensibilizar outros seus amigos para que se doessem das necessidades básicas dos nossos e de parte da população que rodeia as nossas Casas. Este empenho tem na base a experiência que por lá fez durante alguns anos, o que lhe deixou marcas que não se apagaram com a distância que agora o separa da realidade que lhe ficou no coração.

O entusiasmo foi tanto que pensou poder encher um contentor com os bens alimentares que havia de angariar, mas se tal não se apresentou fácil, não deixou, no entanto, de ter o seu coração cheio de alegria por antever a alegria de muitos.

Fica-nos assim, ainda, uma boa parte de cada contentor para podermos mandar outros bens que, não sendo alimentares, são fundamentais para os trabalhos agrícolas e oficinais, e para uso diário dos nossos Rapazes e de mais alguém que deles possa vir a necessitar. As máquinas agrícolas especialmente, mas também as ferramentas e outros equipamentos das oficinas, necessitam de assistência e renovação, muitas vezes difícil de fazer pela carestia e inexistência de componentes para substituição. Por tal motivo, também nós vamos tocando ao coração de quem nos pode ajudar, procurando obter os materiais que os nossos de lá nos vão pedindo.

Neste tempo de Olimpíadas, em que a conquista de medalhas exige tão grandes e longas renúncias e sacrifícios aos atletas, e que trazem a quem as ganha uma indizível alegria bem estampada no rosto dos trios de vencedores, quanta alegria, no tempo presente, deveria encher o coração de quem partilha com os Pobres os seus bens, sabendo que ao partilhado se junta a constituição de um outro tesouro «no Céu onde nem a traça nem a ferrugem os corroem nem os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar.» O nosso amigo acima referido, sempre que cá vem acrescentar o pecúlio dos bens a enviar, vai-nos manifestando, inadvertidamente, esta mesma alegria. Que nada corroa a alegria da partilha.

As nossas Casas do Gaiato em Angola têm sido bem joeiradas, ao longo dos anos, como o trigo na peneira e, talvez mais ainda, como construção sujeita a fortes intempéries. Mas os seus alicerces foram postos sobre a rocha, o Santíssimo Nome de Jesus. A sua vida está intimamente dependente da Providência divina. Deus providenciará... Esta tem sido a fé que as conduz, que nunca desiludiu mesmo quando os acontecimentos pareciam revelar o contrário. E que duros acontecimentos!...

Vão já nos 57 anos de vida. Anos de muitas alegrias, trabalhos e incentivo para tantos. Tem sido pela partilha de vida e de bens que se alcança a comunhão de sentimentos de fraternidade, que não se esfumam com o tempo.

Padre Júlio