DA NOSSA VIDA

65 Anos

O mês de Julho está nos fundamentos da nossa Obra. Primeiro o seu dia 28, data de ordenação sacerdotal de Pai Américo no ano de 1929, e depois o dia 16, data da sua partida para a Casa do Pai, do ano de 1956.

No ano corrente, completam-se 65 anos que nos afastam cronologicamente deste último acontecimento, que apesar de já serem muitos, não o apaga da memória, antes mantém-se vivo naqueles que o acompanharam e em todos aqueles que, por uma razão ou por outra, foram tocados mais tarde pela figura de Pai Américo.

Esta memória, juntamente com a Obra que perdura, é o que continuará a fazer dele uma personagem actual, muito mais que uma referência histórica articulista do passado. No plano da fé, Pai Américo mantém-se actuante no devir da Obra da Rua, porque se convicto estava de que Ela é obra de Deus, mais claramente a passou a ver.

Os fundamentos da Obra são os mesmos porque são imutáveis. Embora obra humana, como não podia deixar de ser, o seu fundamento está no «sabor» divino que Deus lhe incute. Deus é amor, como diz S. João, e é neste modo de ser de Deus que está o segredo divino de a tornar humana.

Com o tempo, mudam os modos de ser e de viver dos homens e da organização das sociedades, mas não muda o que é próprio do ser humano: um ser familiar, social e criativo. Necessita de viver em família, de conviver com os outros (necessidade acentuada pela pandemia actual), de renovar a vida e o mundo. Na ânsia de manifestar a sua autonomia e independência, faz muitas coisas erradas nestes domínios, que muitas vezes se voltam contra si próprio. Isto acontece quando impede a entrada do «sabor» divino na sua vida. Daqui nascem todo o tipo de crimes, contra a humanidade e contra a natureza.

Todas estas mudanças põem em crise a nossa Obra. Porque estas mudanças não se dão de modo igual em todo o mundo, também não se fazem sentir do mesmo modo em todas as nossas Casas. Impõe-se-nos corresponder às necessidades dos Pobres onde estamos e acolhê-los com caridade; impõe-se-nos aceitar as mudanças naturais nos modos de ser e de viver, mas rejeitar as que são contranatura; impõe-se-nos que o amor de Deus, que é criativo, seja o que motiva e impele a nossa vida.

As mudanças mexem muito com a vida. Num mundo onde é fácil o trânsito de notícias, de ideias e de opiniões, é difícil distinguir o que é bom por inteiro ou só bom na aparência. Quando é tão fácil transmitir o verdadeiro como o falso, e é tão difícil distingui-los, como fazer o discernimento? «Pelos frutos os conhecereis», uma árvore distingue-se das outras pelos frutos que dá. Porém, para as novas gerações, nada formadas nem habituadas a seguir os melhores critérios, é mais fácil pôr tudo de lado, rejeitar o bom e o mau. É assim que vemos que, ao partirem os Amigos dos Pobres, ninguém fica para os substituir e dar continuidade a muito do ânimo que alimentou as suas vidas.

Pai Américo partiu há 65 anos. Muitos dos nossos Amigos, desde a primeira hora, também já partiram ou vão partindo. Para os que vão ficando esperamos de Deus um suplemento de sabedoria, de graça e do seu amor.

Padre Júlio