
DA NOSSA VIDA
Pobrezas
É uma família que acompanhamos há muitos anos, que sempre teve carências de tudo - para nós, acompanhar é partilhar. Apesar das suas carências conseguiu manter-se unida na sua pobreza...
Depois de viverem vários anos numa casinha muito pobre, de que tinham que pagar renda, onde os conheci, passaram para uma outra casa pobre, mas digna, pela qual não tinham renda a pagar.
Para subsistirem, lá iam arranjando alguns meios, aproveitando e vendendo o que achavam e que já não servia para aqueles que o deitavam fora, obtendo assim um acréscimo ao rendimento social que, a dada altura, começaram a receber.
Assim foram vivendo durante todos estes anos.
A mãe da família, tinha problemas de saúde que se foram agravando com o passar dos anos. Cada vez mais limitada, começou por ter que se manter em casa, sem sair à rua, acabando por ficar de cama permanentemente.
A morte veio buscá-la quando a situação económica da família tinha melhorado um pouco, visto que o filho começara a trabalhar. Este desenlace, directamente ou não, veio complicar, de novo, a vida desta família, porque o jovem se deixou apanhar na rede de uma mulher, que o fez perder o que tinha, endividou-se e meteu o pai em sarilhos.
Foi este que nos veio contar o sucedido, entre algumas lágrimas, e queixar-se do seu infortúnio. Estava também sem nada em casa, nem com que cozinhar nem algo para o poder fazer. Como nos competia, providenciamos uma e outra coisa e algumas palavras de alento.
Com a pobreza e a doença conviveram muitos anos unidos, mas depois de lhes faltar a mãe perderam a força para vencer os desvarios que recentemente assaltaram o filho. A Pobre e doente era o catalisador familiar. Sem ela, da pobreza caíram na miséria.
Os maiores males sociais nem sempre têm origem nas dificuldades económicas a que muitos são votados. Muitos têm origem nos que se deixam invadir, culpavelmente ou não, por uma qualquer ilusão desenfreada que deles se apossa. Estes grandes males atacam pobres e ricos, espalhando miséria à sua volta, seja moral seja material.
Nos tempos que vivemos, já pouca importância se dá às misérias morais. São tratadas como coisas do foro individual. Mas são precisamente estas que destroem famílias, que provocam sofrimentos que degeneram em doenças, que impedem o crescimento harmonioso dos mais novos, que lançam muitos em situação de pobreza ou miséria. Tantas situações de vida de que vemos os factos mas de que desconhecemos as causas.
Nas últimas décadas tem sido dado destaque à assunção dos direitos. Mas, para quando a educação para a responsabilidade na relação com os outros?
Padre Júlio