
DA NOSSA VIDA
Liberdade
Continua a ter enorme influência na vida de todos a pandemia do vírus, espalhado por todos os cantos do mundo, que, como um camaleão, vai mudando de figura para sobreviver.
Muitas vidas não lhe têm resistido. A forma sub-reptícia nas quais entrou, com pezinhos de lã, furou as defesas ou as fragilidades de que somos dotados. Muitas mais, foram mais fortes, umas ficando- -lhe incólumes e outras feridas, em geral imunizadas.
A persistência com que este vírus tem permanecido activo e a sua capacidade para se renovar é que parece torna-lo algo fora dos equilíbrios naturais. A natureza tende para o equilíbrio, mesmo que o faça com violência. Será, neste caso, aquilo a que se costuma fazer referência quando se diz que «a natureza vinga-se».
Embora não pareça perigoso, por essa razão apareceram muitos a desvalorizá-lo reduzindo-o a nada, os chamados negacionistas. O vírus é de facto muito perigoso, perigo que cresce com esta atitude mais que relativista e com a autoconfiança com que facilmente nos iludimos.
Anseia-se por voltar a viver sem este forte condicionalismo da liberdade pessoal. Esta é própria do ser humano e, por isso, estando muito limitada, há a tendência para a procurar com sofreguidão e exageros.
Mas, também a liberdade, está sujeita a um ponto de equilíbrio. Costuma-se dizer que «a minha liberdade termina quando começa a liberdade dos outros». Não que termine mas que fica restringida, sujeita ao ponto de equilíbrio do interesse mútuo.
Chegados a este momento civilizacional, em que de facto se anda fora do ponto de equilíbrio da liberdade social, parece que o vírus super-resistente nos vem chamar a atenção para a necessidade de recuperar esse ponto, que não é mais que a assunção do respeito mútuo entre todos, de onde virá a justiça. Pena é que, entretanto, pague o justo pelo pecador, o mais frágil pelo que é mais forte.
A continuar assim a vida social, não será de admirar que cada vez haja mais violência, resultante da desfocagem do que é a liberdade, do maior distanciamento do ponto de equilíbrio da liberdade entre todos. Neste ponto S. Paulo é claro, convidando-nos a tomar a liberdade para o serviço mútuo pela caridade, e não deixa de nos alertar para o perigo de não se viver em verdadeira liberdade: «Mas, se mutuamente vos mordeis e devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros.» (Gal 5,15)
O mundo em geral, debate-se hoje tanto com o problema do vírus como com o problema das violências geradas pelo mau uso da liberdade. A moral da Igreja, ontem menosprezada, é hoje uma grave carência no mundo, para que atravessando todos os estratos sociais seja fermento para uma nova vivência em sociedade.
Padre Júlio