DA NOSSA VIDA

75 Anos

Foi no dia 24 de Março de 1946 que aconteceu a inauguração da Aldeia da Casa do Gaiato das Ruas do Porto, assim inicialmente denominada, e depois definitivamente conhecida como Casa do Gaiato de Paço de Sousa. Este acontecimento teve a sua centralidade na bênção da capela e da primeira Celebração da Eucaristia, presididas pelo Bispo do Porto de então, Dom Agostinho de Jesus e Sousa, a par com representantes do Governo que viram, sentiram e acarinharam os passos dados e animaram para outros futuros, e com a presença de centenas de pessoas que alimentariam a chama que já aquecia a vida de muitos Rapazes e Pobres.

Fora já em Abril de 1943 que Pai Américo tomara conta da quinta onde iria construir a Aldeia. Sem tempo para perder, logo começam os trabalhos de arregimentar a pedra necessária para os edifícios que irão acolher duas centenas de Rapazes provenientes das ruas e caminhos de muitas localidades, do norte ao sul de Portugal, muitos deles aqui arribados pelo seu próprio pé.

De certa forma, nesse dia grande, a inauguração da capela tomou a primazia em relação aos restantes edifícios da Aldeia, pois a inauguração de qualquer outro edifício coincidia com o começo de o pôr a uso na sua finalidade, sem qualquer formalidade. Diferentemente, a capela no centro da Aldeia, onde o sino toca a marcar o ritmo das tarefas e acontecimentos do dia, o lugar do encontro de cada membro da Comunidade consigo mesmo e com o Criador, é o epicentro onde se renova interiormente cada um e se faz a unidade de todos para enfrentar o dinamismo da vida.

O lançamento da primeira pedra na construção da capela, fora já vivido com toda a solenidade pela Comunidade, em Agosto de 1944, a qual habitava então nas instalações dos claustros do Mosteiro de Paço de Sousa, onde se instalara Pai Américo e os três primeiros gaiatos, o António, o Amadeu e o Adolfo, vindos da Casa do Gaiato de Coimbra, em Maio de 1943, e depois todos os que a eles se foram agregando.

«Eu construí a capela para mim, para mim, três vezes para mim. Suspirei por este dia. Esperei com violência. Hoje é a posse plena. A minha vida é volúpia. Ninguém faz ideia do que seja o sentir (compreender não) na alma a presença real do Mestre, inefável mistério a que os Crentes chamam o Santíssimo Sacramento; - ninguém.» (Pai Américo, O Gaiato, n.º 56, 20-04-1946)

A centralidade da vida de Pai Américo está bem expressa neste expandir de alma. É por aquela que conduz os seus passos, procurando-a naquela «fuga» para Vilariño da Ramalhosa em 1923, até ser tudo em si em 28 de Julho de 1929, quando ao seu nome próprio antecipou o P. do sacramento da Ordem do que então já era e o Ponto de Admiração no final, que o havia de acompanhar também até ao fim - P. Américo!

Agora, com a presença do nosso Bispo, Dom Manuel Linda, os nossos padres fazendo presente cada Casa da Obra da Rua porque a pandemia não permite aglomeração de pessoas como naquele tempo, celebramos este acontecimento marcante na vida de Pai Américo, da nossa Obra e da Igreja, na de muitos e do próprio País, com os olhos postos nas multidões que aspiram por paz e justiça, sem os desviar dos que estão à porta e chamam.

Padre Júlio