DA NOSSA VIDA

Pela fé

É o aniversário d'O GAIATO que, nesta sua edição, celebramos. Foi dentro da Obra da Rua que ele nasceu mas para andar fora, agarrado às mãos de todos os inquietos e insatisfeitos com as injustiças do mundo, sem medo de ser contagiado mas com grande vontade de contagiar o amor que lhe dá vida.

São 77 anos de existência, muitos para uma só vida, mas poucos para quem quer ir «até ao fim do mundo». Apesar de termos chegado, no decorrer deste ano, à edição número 2000, ainda não vislumbramos o «cabo da boa esperança», a partir do qual reinaria a justiça e tornar-se-ia desnecessário que O GAIATO fizesse ouvir a sua voz.

Embora sejam muitos ao longo dos anos os que, pela sua palavra, lhe dão voz, não são poucos os que ainda não têm quem lhes dê a possibilidade de saírem da mudez em que é vivida a sua vida. Os Pobres, de perto ou de mais longe, são aqueles por quem O GAIATO existe e por quem se dá.

Se os nossos Leitores são movidos a ler e a reler O GAIATO pelo amor da criança sem família e tantos outros que sofrem o abandono, também nós sentimos a inquietação de nada podermos fazer a uma multidão de irmãos nossos, relegados para os cantos do esquecimento, onde se apagam vidas sem haver quem as reanime.

São tantas as carências de hoje, que parecem crescer com a visibilidade que os meios de comunicação social lhes dão, que se impõe multiplicarem-se os samaritanos desta epopeia em favor dos abandonados pela doença e pela velhice. De registar e louvar uma crescente acção de cariz vicentino, com os membros de forças policiais a fazerem-se visitadores destes pobres a quem as próprias famílias não dão ou não podem dar o ambiente familiar no quotidiano.

A doença que atacou as sociedades neste tempo, fez despertar em muitos, instituições, particulares, empresas e companheiros nas actividades diárias, sentimentos adormecidos de humanidade. É preciso que se vá mais longe, que se chegue àqueles a quem é negada a existência logo nos primeiros dias de vida, e que se animem os sem esperança, para que não venham a cair nas ratoeiras que as leis dos homens lhes vão armando. Sob a capa do exercício da liberdade pessoal sem medida, escondem-se interesses de poder em quem deveria ter por único interesse servir.

O GAIATO nasceu num ambiente de verdadeira guerra e de verdadeira fome, de pão e de humanidade. Por ser fiel a Deus e ao Pobre, a sua voz fez-se ouvir e, em consequência, fez-se justiça. O «lixo» das ruas converteu-se em riqueza da nação e a esperança de muitos, num mundo mais feliz, encontrou razões para terem fé: «Quantas almas hoje põem as mãos e começam a duvidar se haverá ou não Deus! Realmente, os que não acreditam, começam a ter dúvidas; e aqueles que acreditam, começam a ter mais alegria. Ele há no mundo força maior do que a alavanca da fé, para fazer face à vida?» (Pai Américo).

Padre Júlio