
DA NOSSA VIDA
Generosidade
É normal, quando acolhemos um novo Rapaz e ele é ainda criança, com idade a rondar a dezena de anos, às vezes ainda menos, que ele tome a iniciativa e deseje servir à mesa. Se o vemos com capacidade para tal, consentimos.
O último nestas condições foi o Jó. Começou por pedir. Fui adiando a resposta afirmativa até que consenti. Agora é vê-lo cheio de satisfação a servir a nossa mesa. Gosta tanto de andar para lá e para cá que leva uma só coisa de cada vez. Ao que necessita de mais cuidado corresponde com passo lento e atento. Quando se trata de coisas quentes, antecipamo-nos no serviço.
Como dizia Pai Américo, toda a criança gosta naturalmente de ser útil; de servir. Esta verdade repete-se, independentemente das características do tempo que se vive. Apesar disso, há quem ache mais avançada uma pedagogia assistencialista, de passividade da criança no que diz respeito às tarefas domésticas, a serem antes realizadas por adultos, embora pareça que alguma coisa vai mudando passado que estará o complexo de tudo ser tomado por trabalho infantil.
O impulso da criança para o serviço, é algo que deve ser acarinhado e valorizado, ainda que se ache desnecessária ou imperfeita a sua contribuição. Há um dom muito valioso no ser humano que se chama generosidade, que se concretiza de muitas maneiras, e que é fonte de alegria para quem a exerce e para quem dela beneficia. O seu oposto causa mal-estar e divisão. Se desde pequenina a criança expande o gosto de ser útil e de servir, abre caminho no seu coração para um futuro mais feliz e mais humano.
Como em tudo na vida, também aqui entram as influências que arrefecem ou pervertem este gosto de que vimos falando, incentivando ao egoísmo. É o puxar para cima do eu, antes adormecido com a amizade pelo tu, através da posse - isto é para ti. Por vezes, dá-se ainda mais força ao egoísmo sublinhado a dádiva com um - os outros não precisam de saber...
Esta tem sido uma batalha permanente desde que a Casa do
Gaiato existe. Uma fonte de dores de cabeça e até de algumas altercações com os
autores destas maroteiras. De facto, o mais vulgar é que um Rapaz repetidamente
alvo delas se vá tornando fraco em resistir-lhes. E o que se poderá esperar
mais tarde, nem é bom dizer.
Para alcançar o contrário, o meio é um só, e consiste no trabalho em contrariar esta influência, que nunca desaparece, pelo conhecimento e escuta da consciência. Esta é a grande amiga que se pode opor com êxito ao inimigo a vencer, que é o egoísmo.
Claro que estes pensamentos não se aplicam só às crianças. Também os adultos deveriam ter ouvidos para escutar a sua consciência, houvesse quem os sensibilizasse para esta necessidade imperiosa. Ela é uma boa amiga de todas as horas e uma boa conselheira. Neles, como acabam as suas obras quando é dominadora a influência do egoísmo? Os tempos actuais mostram-no claramente pois dela todo o mundo se queixa, da corrupção.
Padre Júlio